Termina hoje a greve nacional de dois dias, levada a cabo pelos médicos do setor público nacional. A mesma foi convocada pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM), e pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM).
Hugo Cadavez, dirigente do Sindicato Independente dos Médicos, falou à RC sobre as reivindicações originárias desta greve, e as consequências da greve para o serviço de saúde.
A adesão à greve nacional, segundo o dirigente do SIM, foi muito maior que a esperada.
Garantindo que os serviços mínimos foram assegurados, “houve uma adesão maciça” à greve.
Não havendo ainda dados concretos da adesão na zona do Alentejo, “podemos dizer que, por exemplo, o Centro de Saúde de Castelo de Vide tem uma adesão de 100%”, avança, afirmando que a adesão nacional se situa “entre os 80 e os 100%”.
Reconhecendo que a greve aumentará o atraso, considera importante “pensar é no porquê”. O cansaço dos médicos que “estão no limite […] daquilo que conseguem prestar”, assim como o facto de estarem sujeitos a uma degradação das condições de trabalho “que leva a que haja cada vez mais médicos a sair”, impossibilita os que ficam, de dar resposta à procura, declara Hugo Cadavez.
Sendo uma greve inerente à função pública, reconhece que, por questões de ética, houve médicos que “acabaram por não comparecer também à sua atividade privada”.
O atual regime não prevê incompatibilidade entre o exercício simultâneo de funções no sector público e no privado, pelo que “muito dificilmente têm condições psicológicas sequer para exercer atividade privada”, mas existe ainda uma minoria que o faz.
O dirigente afirma que, há um ano e meio, se encontra em discussão com o governo, um “conjunto abrangente de pontos”, que após “mais de 500 dias de discussão”, se revelaram infrutíferas.
A greve convocada, reivindica a “redução do trabalho extraordinário anual das 200 horas para as 150 horas anuais”, igualando a categoria dos médicos, à restante função pública.
Segundo Hugo Cadavez, pedem ainda a “redução do trabalho em urgência, das 18 horas para as 12 horas” semanais. Este aumento registou-se em 2012, e seria transitório, durante o período assistência financeira.
O facto de passarem cerca de metade do tempo de trabalho semanal nas urgências, “significa que os médicos ficam depois sem tempo para fazer as consultas, para fazer as cirurgias, para atividade no internamento”, para recuperar listas de espera, declara o dirigente.
Durante o mesmo período de assistência económica e financeira, verificou-se um aumento de 1550 para 1900 doentes, por médico de família. Segundo o dirigente do SIM, pedem a “redução gradual” desse número.
Os médicos são, atualmente, a única categoria profissional nas EPEs, ainda a sofrer os cortes no pagamento de horas extra, iniciados em 2013.
É ainda reivindicada a “abertura regular de concursos médicos para progressão na carreira”.
Esta medida não se prende apenas com a progressão na carreira, mas porque a mesma possibilita a existência de uma maior variedade de especialistas. A existência de assistentes graduados e assistentes graduados sénior, garantirá o acolhimento e formação de internos e especialistas. A situação atual “põe em causa a qualidade dos serviços médicos prestados à população, e põe em causa o próprio sistema de saúde”.