O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, pronunciou-se hoje sobre a animação controversa veiculada pela RTP, na qual a polícia e o racismo são abordados. O ministro defendeu a autonomia dos humoristas e ‘cartoonistas’, sublinhando que a animação em questão alude à “realidade francesa”, “é um ‘cartoon’ e eu acho que devemos levar a sério essa autonomia do que é o humor e o humor sobre a atualidade política nacional e internacional.”
Durante uma visita a Vila Viçosa, Pedro Adão e Silva enfatizou a importância de levar a sério a autonomia do humor e do ‘cartoon’ em relação à atualidade política, tanto a nível nacional como internacional. O ministro salientou a necessidade de garantir a independência criativa destas formas de expressão artística, sem interferência editorial.
A animação intitulada “Carreira de tiro”, da autoria de Cristina Sampaio, colaboradora do coletivo Spam Cartoon, tem gerado controvérsia por retratar um polícia a disparar cada vez com maior intensidade num alvo. No final, os alvos escurecem à medida que a agressividade do polícia aumenta, simbolizando a questão do racismo nas forças de segurança.
Pedro Adão e Silva salientou que existem “muitos exemplos recentes, trágicos” que levantaram debates sobre os limites do humor e a forma como esses limites devem ser tolerados. O ministro manifestou surpresa com as mudanças de opinião de alguns defensores da liberdade do humor, que parecem contradizer-se em diferentes contextos.
O ministro frisou ainda que o Spam Cartoon é uma rubrica existente há bastante tempo na RTP e que o autor da animação reconheceu que esta faz referência à realidade francesa e aos acontecimentos recentes no país. Pedro Adão e Silva afirmou que não se deve transferir essa realidade para a sociedade portuguesa, sublinhando que tal interpretação não é relevante nem benéfica.
A polémica animação levou o Sindicato Nacional da Carreira de Chefes (SNCC) da PSP a apresentar uma queixa-crime contra os autores do ‘cartoon’ e também contra a RTP, alegando que existe uma clara intenção de difamar todos os polícias, retratando-os como xenófobos e racistas.
O ilustrador André Carrilho, cofundador do Spam Cartoon, considerou que a queixa não faz sentido, uma vez que a animação não tem qualquer relação com a PSP ou com a realidade portuguesa. Carrilho explicou que o ‘cartoon’ aborda um acontecimento internacional, nomeadamente a morte de um jovem francês pelas mãos da polícia, que desencadeou tumultos em toda a França.
A RTP afirmou que o Spam Cartoon é um exercício de opinião livre sobre a atualidade nacional e internacional, acolhido pela emissora desde 2017. A emissora destacou que os valores da liberdade de expressão e opinião são fundamentais para a democracia e para o serviço público prestado pela RTP.
A polémica em torno do ‘cartoon’ motivou críticas por parte do PSD, que questionou o Conselho de Administração da RTP, e do CDS-PP, que criticou o ministro da Administração Interna por considerar que este não defendeu a honra das forças policiais. O partido Chega propôs a audição da RTP e da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) no parlamento.
Fonte: Diário de Coimbra