No dia oito de junho, Dia Mundial dos Oceanos, o Ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, afirmou para o Diário de Notícias, a forma em que os 252 milhões da bazuca e os do PT 2030 serão aplicados. Também revela este mês chegam a Lisboa 4000 empresários focados em investir na economia azul e que é preciso “um choque” para aproveitar todo o potencial.
Em entrevista com o Jornal, o Ministro da Economia e do Mar, que está neste cargo há apenas dois meses, revela quais as expectativas que tem para a função e seus projetos:
“A expectativa é muito grande, foi logo uma das primeiras iniciativas que tomei, foi sentar à mesa os principais players que temos no país na área do mar, incluindo a Marinha que está a fazer o mapeamento do solo marítimo. O senhor Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o almirante Silva Ribeiro, é um entusiasta da ideia da Universidade do Atlântico. É preciso pôr o conhecimento no centro de transformação da economia do mar. Depois, a Fundação Oceano Azul, o Fórum dos Oceanos, empresas ligadas ao setor. Queremos construir no país o greenshipping em Sines, desenvolver os portos, digitalizar, modernizar e inseri-los na rede internacional. Esse é um dos polos fundamentais da atividade. O segundo, é dar muita atenção às questões financeiras, porque uma das razões pelas quais os projetos da economia do mar avançam aos solavancos, é que não conseguimos combinar o que as nossas empresas fazem – incluindo as start-ups de excelente qualidade que temos -, com o setor financeiro.
A Conferência dos Oceanos vai providenciar esses fóruns e essa interação e, portanto, queria ver se conseguíamos transformar Lisboa numa espécie de praça financeira para a economia do mar. Há muitos fundos internacionais com montantes impressionantes, precisam é de bons projetos.
Depois, temos o setor das energias oceânicas e das energias renováveis. Temos na eólica offshore um potencial imenso e a nossa eólica offshore tem potência suficiente que pode ser importante para se transformar na grande plataforma de apoio ao hidrogénio verde.
Temos os projetos em terra que são muito importantes para o hidrogénio verde, mas o mar vai ser o futuro, com a eólica offshore e a eletrólise da água, diretamente da água do mar. Precisamos de grandes quantidades de hidrogénio para substituir tudo o que se passa na matriz energética atual, que é dominada pelos combustíveis fósseis. Temos também a outra fileira das biotecnologias marinhas, já temos instituições em Portugal que trabalham nesta área, grandes players como a Fundação Oceano Azul e o Fórum dos Oceanos”.
Sobre o impacto que pode ter o mar na criação de emprego, o Ministro afirma que pensa que “números hoje, a nível de emprego no setor do mar, representaram cerca de 4% do emprego que temos no país, mas podemos ter muito mais. Não tenho neste momento nenhuma estimativa”.
Quando questionado sobre o fato de Sines poder representar duas Autoeuropas o Ministro revela:
“O investimento que está previsto para Sines, da ordem de 17 ou 18 mil milhões de euros, é sobretudo investimento privado de grandes empresas e consórcios. Há um polo muito importante que é o da logística, portanto, o nosso terminal em Sines tem uma capacidade de cerca de 2,1 ou 2,2 milhões de contentores. Com o projeto de extensão que já está em execução, vai chegar aos 4 ou 4,3 milhões de contentores. Mas até 2030, se tivermos o novo cais, pode chegar aos oito milhões de contentores. Hamburgo, um dos maiores portos da Europa, processa 8,5 milhões de contentores. Se tivermos esta capacidade, depois podemos consolidar as ligações com todas as partes do mundo.
Depois, temos uma parte extremamente importante que tem a ver com os cabos submarinos e os centros de tratamento de dados. Os projetos, nesta altura, andam à volta dos 3,5 mil milhões de euros, incluindo um data center que já está em execução. Nos cabos submarinos temos o projeto Equiano da Google, que liga Sesimbra à Cidade do Cabo, são mais de 11 700 quilómetros. Depois, no continente africano vai ter algumas ramificações, dez ou onze ao longo do continente, mas a ideia é que o fluxo de dados venha a Portugal. Vamos lutar por isso e para que também esteja associado a u centro de tratamento de dados.
Também há o EllaLink que liga à América do Sul, há cabos que vão ligar a África, Ásia e Oceânia, portanto, há um conjunto de projetos que estão em execução e que são extremamente interessantes. Se conseguirmos aliar a isso, os centros de tratamento de dados e com a inteligência artificial, há toda uma área de emprego, sobretudo para os jovens, que são os cientistas de dados.
Há outro polo, o das energias, em que os investimentos são mais de sete mil milhões de euros, não só dos investidores convencionais que temos em Sines, como é o caso da EDP, da Galp, da Repsol, são sobretudo investimentos na descarbonização, mas há mais um conjunto de investidores que estão a desenvolver clusters do hidrogénio e das energias renováveis. Penso que a combinação destes três vértices pode transformar Sines num dos polos, não só das novas energias, dos cabos submarinos, do novo paradigma da conectividade e da logística internacional, e colocar Sines no mapa”.
Sines pode ser um eixo de distribuição e reforçar a independência energética de Portugal e da Europa?
“Estamos a trabalhar a curto prazo no projeto de transshipment do gás, ou seja, usar Sines como um grande hub porque está perto dos Estados Unidos, de Trinidade e Tobago, da Nigéria, grandes exportadores de gás natural liquefeito, e no âmbito do projeto REPowerEU.
A UE quer simplesmente terminar com a importação de gás da Rússia, porque anualmente a União Europeia importa da Rússia 155 mil milhões de metros cúbicos de gás. Cancelar esta importação via pipelines e transferi-la para o gás natural liquefeito, significa pôr nos portos do norte da Europa, que já estão por si congestionados, mais 1300 ou 1400 grandes navios por ano.
Isso, se for feito assim, vai alterar o paradigma que temos hoje de transporte de gás natural liquefeito no mundo, vai criar grandes perturbações em várias áreas, e o que pensamos é completar esse modelo com o transshipment a partir de Sines. Com navios mais pequenos, podemos receber navios com 200 mil metros cúbicos, mas com navios de 70 mil ou 50 mil metros cúbicos, podem abastecer de forma muito flexível, rápida e eficaz, alguns portos do norte da Europa.
Não só na Alemanha, mas também na Polónia que é um dos grandes apoiantes do projeto, e nos países bálticos. Assim teremos um modelo muito mais flexível e eficaz, isso no gás natural e liquefeito. A curto prazo, Portugal, só em relação à Alemanha, pode colmatar entre 12% e 15% das necessidades de importação de gás da Alemanha. Isso também está em discussão com o governo alemão, mas temos de ver como se vai prosseguir.
Mas isso é apenas a primeira fase. A segunda é as conexões ibéricas com a Europa. No último Conselho Europeu o primeiro-ministro conseguiu que isso fosse fixado e que finalmente seja adquirido, porque essas ligações são fundamentais. Depois, o que queríamos fazer era exportar via sistemas de pipelines ibéricos ligados à Europa, o gás, o hidrogénio e as energias renováveis”.
Para ler a entrevista na íntegra, aceda ao link