Esta sexta, 16 de julho, pelas 18h30, é inaugurada na Galeria Municipal de Montemor-o-Novo a exposição “embodying the landscape”, da fotógrafa Rosa Nunes.
Rosa Nunes é arqueóloga. Habituou-se, com essa experiência, ao olhar dirigido ao fragmento que deve ser inquirido, na busca do sentido. A sua obra fotográfica toma, por isso, esse vestígio (pode-se-lhe chamar instante, se preferirmos) como mote para, a partir dele, se colocar questões, conforme divulgado pelo município nas suas redes sociais.
Nesta exposição, Rosa Nunes dirige a sua atenção para o corpo feminino. Território disputado, legislado como nenhum outro, policiado como nenhum outro, tem custado a ser reclamado como entidade e lugar com autoridade própria. Alienado do poder, contestado na sua voz individual, o corpo feminino continua a ser visto como objectificado.
Os 20 registos que Rosa Nunes apresenta oscilam entre a fotografia da superfície do corpo (conjugando-a com o seu duplo num espelho indefinível) e um espreitar científico para dentro do mesmo. Em todos os registos domina a sombra, num jogo plástico em que o gesto se torna paisagem e em que estas paisagens concretas devêm imagens abstractas.
O conjunto é suficientemente decifrável para podermos reconhecer a linguagem do desejo cruzada com a invasiva expressão do medo. Um registo sacrificial alia-se a imagens que sugerem desolação e que avançam para a inclusão de imagens ilegíveis, de raios x ou de ecografias. Nessa parte indecifrável, o corpo, território de águas turvas, surge representado como um panorama devassado, que sugere o efeito da violência e da desolação. Que sentido encontramos em cada fragmento? Que sentido buscar neste conjunto? Sem mais pistas além da escuridão que envolve os corpos, estas são imagens que, acima de tudo, lançam perguntas inquietantes a quem com elas se confronta.