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Município de Reg. Monsaraz emite votos de pesar pelos falecimentos de José Cutileiro e Gabriel Raminhos

Voto de Pesar pelo falecimento de José Cutileiro (1934-2020)

No passado dia 17 de maio, faleceu em Bruxelas, onde se encontrava hospitalizado, o eborense José Cutileiro, antropólogo, embaixador, diplomata, escritor, cronista e poeta. Era irmão do escultor João Cutileiro.

Nasceu em Évora a 20 de Novembro de 1934, no seio de uma família que ondulava entre o republicanismo paterno, que não se abstinha de enfrentar ideologicamente o Estado Novo e de cavar antipatias com a PIDE, e o fervoroso catolicismo materno, que admirava Salazar e o regime. Estas constantes afrontas levaram a família Cutileiro para o exílio, primeiro na Suíça, depois na Índia e Paquistão, onde o pai de José Cutileiro trabalhou para a Organização Mundial de Saúde.

De regresso a Portugal, país que amava mas de que não gostava, onde não queria morar, mas por quem era capaz de morrer, José Cutileiro frequentou os cursos de Arquitectura e de Medicina. Não os terminou, pois acabaria por se render à Antropologia Social, que o ajudava a pensar, tendo concluído a licenciatura e o doutoramento na Universidade de Oxford.

Em 1974, o então professor na London School of Economics, é convidado por Mário Soares a juntar-se ao serviço diplomático, iniciando uma brilhante carreira diplomática que o levaria às embaixadas de Maputo e de Pretória (onde conheceu Nelson Mandela), à Conferência de Desarmamento da Europa (Estocolmo, 1984), às negociações da entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1987 e a coordenar a Conferência de Paz para a Jugoslávia em 1992. Jorge Sampaio, antigo Presidente da República, descreveu-o como “um brilhantíssimo servidor da causa pública, tendo revelado altas qualidades de negociador em momentos importante para a afirmação externa do país”.

Independentemente do brilhantismo da sua carreira diplomática, José Cutileiro ficou inevitavelmente ligado ao concelho de Reguengos de Monsaraz em duas alturas da sua vida. A primeira quando publicou Ricos e Pobres no Alentejo, um estudo sobre uma freguesia rural alentejana em meado do século XX. A freguesia, apenas identificada como Vila Velha, era Monsaraz, onde Cutileiro esteve entre 1965 e 1967, fazendo-se acompanhar pelo fotógrafo Gérard Castello Lopes. Monografia antropológica, o livro estuda a distribuição da terra, as classes sociais que dela resultavam e as relações entre estas, a estrutura administrativa e política, família, parentesco, compadrios, amizades e vizinhança, as crenças e os valores morais que davam Norte às pessoas. Publicada pela Oxford University Press, em 1971, sob o título A Portuguese Rural Society, a obra veio a ser traduzida e editada seis anos mais tarde em Portugal. A segunda, mais recente, quando se interessou e incentivou a publicação do livro “Poemas” da autoria do reguenguense Dr. José Rosa Sereto, lançado no Auditório Municipal, no âmbito das Comemorações do Dia da Cidade em 2013.

Reconhecedor do importante valor cultural que a vida e obra de José Cutileiro tiveram no nosso concelho, todos os membros do Executivo Municipal e a Senhora Presidente da Assembleia Municipal enderençam as suas condolências a toda a família do senhor embaixador.

 

Voto de Pesar pelo falecimento do poeta reguenguense Gabriel Raminhos

Faleceu, no passado dia 10 de maio, em Carcavelos, o poeta reguenguense Gabriel da Conceição Raminhos, que contava com 95 anos de idade. Com ele desapareceu um dos maiores vultos da cultura de Reguengos de Monsaraz, que dedicou grande parte da sua vida à poesia, deixando-nos, para a posterioridade, nos seus livros e nos seus sonetos, o “néctar da sabedoria, colhida e maturada pela experiência vivida e decantados com grande musicalidade e envolvência emocional”.

Gabriel Raminhos veio ao mundo no dia 8 de dezembro de 1924, em Reguengos de Monsaraz, filho de António José Tomé e de Maria Francisca Raminhos. No final da Segunda Guerra Mundial, rumou para o litoral e estabeleceu residência em Carcavelos, onde trabalhou numa fábrica de moagem, primeiro como simples paquete, saindo de lá como chefe da contabilidade. Na vida, como na poesia, colocou sempre a mesma paixão, o mesmo amor, a mesma vontade de viver, de sonhar, que transportou em palavras para os seus livros num cintilante lirismo clássico “embrulhado em sentimentos”.

Começou a deliciar-nos com a sua poesia nos idos anos 40 do século XX, quando se tornou num assíduo colaborador do Eco de Reguengos. Mais tarde, o Jornal Palavra acolheu-o, formando uma sociedade que durou até à sua morte. Deixa vários livros publicados, entre os quais “Reflexos da vida” (2001); “Do Sonho à realidade” (2003); “Lembranças do Alentejo” (2004); “Quadras que ficam…” (2008); “As palavras depois dos oitenta…” (2008). Estes dois últimos livros de Gabriel Raminhos tiveram apresentação em Reguengos de Monsaraz no “Encontro de Reguenguenses Ausentes” realizado durante as Festas de Santo António de 2008. Participou ainda que a amiúde em programas de rádio e nas feiras do livro de Reguengos de Monsaraz, onde aproveitava para rever os seus amigos de sempre, também eles homens da cultura e das letras, Manuel Sérgio, Luís Filipe Marcão e Ilídio Tavares. Tendo sido várias vezes premiado em jogos florais em todo o país. Destes prémios destacamos: 1.º. Prémio na categoria “Quadra Popular” na XX edição dos Jogos Florais de Monforte; 1.º Prémio na categoria de “Quadra” e 3º. Prémio na categoria “Poesia Obrigada a Mote” nos X Jogos Florais de Avis; e, 2º Prémio na categoria “Poema Livre” nos VIII Jogos Florais da APP – Associação de Professores de Português.

Por último, não podemos deixar de passar em branco, neste momento triste, a sua breve alocução na inauguração da nossa Biblioteca Municipal onde, numa casa de poetas (Conde de Monsaraz) nos presenteou com mais um magnífico conjunto de palavras soltas, sentidas, rimadas, que nós chamamos POESIA.

Aos filhos, netos, bisnetos, e toda a família deste ilustre e “imortal reguenguense”, todos os membros do Executivo Municipal e a senhora Presidente da Assembleia Municipal apresentam não só as suas mais sinceras condolências, como um tributo que define, quanto a nós, a vida e a poesia de Gabriel Raminhos:

 

Sonhar

 

Aquele que sempre viva

Sem um sonho, uma saudade…

É como barco à deriva

Ao sabor da tempestade

 

Quem não sonha não tem vida…

No desespero se enlaça.

E fica sombra perdida

Nas sombras por onde passa

 

O senhor que nos empresta

O lembrar de uma ilusão…

É o calor que nos resta

E dá vida ao coração

 

Gabriel Raminhos, Quadras que ficam… (2008)

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