Uma nova antologia poética de Florbela Espanca, com edição da professora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Cláudia Pazos-Alonso, é apresentada no final do mês em Lisboa, anunciou hoje a editoria literária Shantarin.
“No dia 27 de julho, a nova antologia poética de Florbela Espanca, ‘Versos de Orgulho’, será apresentada na Livraria da Travessa, em Lisboa, com a presença da responsável pela edição, Cláudia Pazos-Alonso”, refere aquela editora, num comunicado hoje divulgado.
Na introdução da obra, Cláudia Pazos-Alonso, professora de Português e Estudos de Género na Faculdade de Línguas Medievais e Modernas da Universidade de Oxford, salienta que Florbela Espanca “é um dos nomes incontornáveis da literatura portuguesa”.
“Transcorridos hoje mais de noventa anos sobre a sua morte prematura, a presente antologia permite entender as razões pelas quais a sua poesia merece ser festejada como a obra de uma ‘Mulher Fenomenal’, para retomar aqui o título de um famoso poema da afro-americana Maya Angelou”, lê-se na introdução.
A antologia, que conta com ilustrações de Margarida Fleming, inclui poemas publicados originalmente em obras como “Livro de mágoas” (1919), “Livro de soror saudade” (1923) e de “Charneca em flor” (1931).
A apresentação de “Versos de Orgulho”, marcada para as 19:00, está a cargo da professora Ana Raquel Fernandes, que leciona na Universidade Europeia e é investigadora do Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa.
Na mesma ocasião será também apresentada a versão bilingue da mesma antologia, intitulada “This sorrow that lifts me up”, com tradução de Simon Park.
Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, em 1894, e morreu em Matosinhos, onde se fixara, 36 anos mais tarde, em 1930. Batizada com o nome Flor Bela Lobo, adotou o apelido Espanca, da família paterna.
Publicou duas antologias em vida, “Livro de Mágoas” (1919) e “Livro de Soror Saudade” (1923), mas o grosso da sua obra teve apenas publicação póstuma.
No último ano de vida, quando redigiu o seu diário (“Diário do Último Ano”), Florbela Espanca conheceu o professor da Universidade de Coimbra Guido Batelli, que viria a promover a publicação de toda a obra da escritora, depois da sua morte, em 08 de dezembro de 1930.
Assim surgiram os inéditos “Charneca em Flor”, cujas provas Florbela ainda revira, e novas edições do “Livro de Mágoas” e do “Livro de Soror Saudade”, tal como o póstumo “Juvenilia” e “Cartas de Florbela Espanca a Dona Júlia Alves e a Guido Batelli”, todos em 1931.
Seguiram-se ainda uma segunda edição de “Charneca em Flor”, com vinte e oito sonetos inéditos (“Reliquiae”), e publicados os contos de “As Máscaras do Destino”, que na década de 1920 a escritora dedicara ao irmão, piloto-aviador morto num acidente no Tejo.
Mais tarde, em 1934, a poesia publicada de Florbela foi reunida no volume “Sonetos Completos”, com prefácio do escritor José Régio.
“Florbela nunca se integrou em nenhum grupo literário, nem nunca foi solicitada a colaborar em qualquer periódico relevante”, lê-se na página da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), dedicada à escritora.
A DGLAB recorda, porém, “um malogrado livro: ‘Alma de Portugal'”, que Florbela chegou a conceber em duas partes, “Na Paz” e “Na Guerra”, mas do qual viria a desistir. Foi em 1916, ano em que Portugal se juntou às forças aliadas da Grande Guerra de 1914-1918.
Estudos recentes sobre a escritora, em universidades de Portugal e do Brasil, destacam Florbela Espanca como “uma mulher à frente de seu tempo”, que venceu “barreiras da sociedade portuguesa da época”, transpondo para a sua obra “temas como amor, erotização, angústia e sofrimento”, assumindo a voz ativa, como destaca a plataforma Brasil Escola.
Florbela Espanca foi uma das primeiras mulheres a frequentar o então Liceu Masculino André de Gouveia, em Évora, e o curso de Direito da Universidade de Lisboa, tendo-se formado em Letras.
A sua biografia na plataforma de ensino destaca ainda “o pioneirismo e a independência de Florbela presentes em sua vida pessoal”, superando três casamentos, “coisa incomum para as mulheres da época”.
“Intensa, Florbela abordou o erotismo em parte dos seus sonetos” e “mostrou que o tema poderia ser tratado por mulheres, o que era um tabu no início do século XX”, conclui a plataforma.
Por Lusa