O Provincial da Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue, Padre Luís Filipe Fernandes, considera que os valores do Evangelho estão a ser atacados, beliscados e gozados com o uso de uma imagem de Jesus Cristo numa campanha do Bloco de Esquerda em defesa da adoção por casais homossexuais.
De acordo com a informação que tem vindo a ser veiculada, o BE colocou nas redes sociais e prepara-se para colocar também nas ruas, um cartaz com a imagem de Jesus Cristo no qual se lê "Jesus também tinha dois pais" e que pretende assinalar a data de 10 de fevereiro de 2016, dia em que o Parlamento confirmou as leis vetadas no final de janeiro pelo Presidente da República, Cavaco Silva, sobre a adoção por casais homossexuais e as alterações à lei da Interrupção Voluntária da Gravidez.
Em declarações à Rádio Campanário, o Provincial refere que “é uma imagem completamente errada para um partido onde a grande maioria das pessoas se dizem ateias, ou são contra o que é o pensamento da Igreja. O recorrer a uma imagem de Jesus Cristo tem uma intenção que é claramente confrontar aqueles que têm uma posição diferente (…) também o facto de usar este argumento de que Jesus tinhas dois pais, é a manifestação de uma grande ignorância teológica porque toda a gente sabe que Jesus tinha um pai e uma mãe, depois a justificação teológica para olhar para Deus como o Pai de Jesus Cristo, o Pai espiritual, como os do Bloco de Esquerda lhe chamam, tem uma intenção também, que nos ultrapassa (…) claro que não se pode expressar assim de qualquer maneira, não só dizer que Jesus tenha dois pais porque isso é completamente errado e só manifesta uma grande ignorância ao nível daquilo que é a teologia”.
Instado sobre as declarações da Deputada do BE, Sandra Cunha em que a intenção desta campanha pressupõe a mudança de mentalidades, o Padre Luís Filipe responde inquirindo, “se as nossas mentalidades mudam-se impondo a nossa opinião ou através de uma reflexão séria, de um diálogo sério, procurando compreender-nos bem uns aos outros, procurando expor os nossos argumentos? Parece-me que o BE tenta claramente impor aquilo que é a sua opinião e fazem-no tocando ou provocando aqueles que têm uma opinião diferente? Se usam a imagem de Jesus Cristo, estão a usar a imagem da Igreja, e a nossa posição na Igreja é clara, nós devemos respeitar as pessoas que fazem a sua opção para viver com as pessoas do mesmo sexo mas não devemos respeitar também uma criança que deve ter direito a ter um pai e uma mãe como qualquer outra criança? Não devemos respeitar também os direitos dessa criança?”
Sublinha que quando “uma criança é adotada e é em tenra idade”, deve primeiro ser ajudada a crescer e só depois, “quando puder usar a razão e tiver a capacidade para usar a razão, então aí, poder escolher se quer viver com um pai e uma mãe ou com dois pais ou com duas mães”.
O Provincial alerta que o que se está a tentar fazer “é impor uma opinião (…) roçando um pouco a ditadura”.
Lembra que o Papa Francisco “já disse várias vezes que cada um escolhe a vida que pretende, que nós temos que respeitar a opinião de cada um, as escolhas que cada um faz, o que não significa que eu as aceite, que esteja de acordo com elas. A pessoa que faz essa opção, eu tenho que a respeitar e tenho que a amar mesmo com a sua opção diversa da minha, mas é importante que haja um diálogo e uma partilha de opiniões, mas sobretudo que haja um procurar de traçar caminhos em conjunto, em comum”.
Considera que na Assembleia da República não houve argumentos esgrimidos para aprovar a nova lei, “eu não me lembro (…) não houve argumentos, o que houve foi jogos de poder”, ironizando, “nós agora temos o poder e como esta lei há pouco tempo estava para ser promulgada e não avançou, agora que temos o poder, esta lei vai ser imposta e vai avançar”, acrescentando, “eu creio que é um jogo de poder, a nível da politica aquilo que nós estamos a assistir neste momento não é a verdade e honestidade, não é um serviço bom que está a ser prestado ao povo, mas é muitas vezes este jogo de poder (…)”.
Quando questionado sobre o que pode vir a gerar esta campanha do BE e se pode levar a que a sociedade possa sentir que existem graves perdas de valores, o Provincial refere que “é um grande desafio para nós cristãos porque se estas pessoas estão eleitas, estão escolhidas, certamente também haverá cristãos que se identificam com esta forma de pensar, é um grande desafio para nós. Se defendemos que o Evangelho deve estar na sociedade e deve ser aquilo que nos orienta, aquilo que orienta a nossa vida, como diz o Papa Francisco, para nós podermos viver na alegria como pessoas, então, nós também em determinados momentos temos que fazer verdadeiras opções, temos que escolher verdadeiros caminhos e não podemos ir atrás de teorias de formas de pensar, de politicas que muitas vezes estão bem elaboradas, têm até um raciocínio logico bem elaborado, mas que no fundo pretendem enganar-nos. Isso é um desafio para a nossa Igreja para as nossas comunidades”.
O Padre Luís Filipe Fernandes concluir dizendo, “se em Portugal há 80% de pessoas que se identificam como cristãos, então é o momento desses cristãos virem para a rua, de falarem, dizerem aquilo que pensam e sobretudo se manifestarem a favor daquilo que são os verdadeiros valores que são os valores do Evangelho que aqui estão claramente a ser atacados, estão a ser beliscados, eu diria, estão a ser gozados”.