O fadista estremocense José Gonçalez apresentou este sábado à noite, na Praça de Toiros de Estremoz o seu 12.º álbum de originais, intitulado “30 Anos Depois…”, no dia em que comemorou 30 anos do lançamento do primeiro disco.
Milhares de pessoas, entre família e amigos, assistiram ao concerto de José Gonçalez, num espetáculo que cumpriu com todas as normas de segurança e higiene emanadas pela Direção-Geral de Saúde, no qual também subiram ao palco outros convidados, como a cantora brasileira Fafá de Belém, que canta com o estremocense o single “A Valsa da Primavera”.
A Rádio Campanário marcou presença e falou com o fadista, que contou como surgiu esta participação da cantora brasileira: “O Jorge Fernando, nosso amigo em comum, estava a passar férias no Brasil e mandou-me uma foto deles a jantarem. Eu achei piada e meti-me com a Fafá de Belém, falámos e convidei-a para vir gravar o programa “Em casa d´Amália”. Como a Fafá de Belém tinha gravado um disco de fado, faria sentido convidá-la. Depois, em conversas, disse que tinha um tema que fiz há uns dias e eu acho que era bonito se gravássemos juntos e enviei-lhe a letra e a música. É incrível, porque ela nem demorou cinco minutos, respondeu-me: Ok, querido Zé! Adorei a música. É linda. Vamos gravar”.
“Ela veio a Portugal, porque ia fazer uma tournée no início do ano, antes da pandemia, para a Polónia, e em três dias que cá esteve gravámos o tema. Eu acho que está lindíssimo”, afirmou o fadista.
José Gonçalez é também radialista, letrista e apresentador de televisão. Questionado pela RC se quem faz um tema quem é letrista e escreve sentimentos é um poeta, o estremocense admitiu que “é uma pergunta bastante interessante e que faz sentido”.
“Eu nunca me considerei, nem me considero um poeta. A minha preocupação é escrever coisas para cantar. Quando escrevo é sempre para cantar. Por isso nunca escrevi nem escrevo com a arrogância nem com a veleidade de me considerar um poeta. O tempo dirá se algumas coisas que eu fui escrevendo serão poesia, mas nunca ninguém me vai ouvir dizer que sou um poeta. Não é o que penso, não é dessa forma que escrevo, porque, às vezes a vida e as circunstâncias, um filme, uma conversa, qualquer coisa que vi, me desperta para escrever um sentimento ou qualquer coisa que passei. Considerar-me um poeta no sentido da semântica, da alma, da profundidade das coisas que, para mim, têm a ver com poesia, nunca me irei arrogar a isso”, garante.
José Gonçalez falou ainda do projeto “Em casa d´Amália”, pensado e apresentado por ele e do seu percurso no pequeno ecrã: “já tinha um percurso nesse aspeto, porque há 10 anos já estava a fazer na RTP o Grande Prémio Nacional do Fado, portanto não foi propriamente do nada. Eu jamais estava à espera de ter um programa apresentado por mim, ainda por mais em casa da Amália Rodrigues. Havia essa ideia e numa conversa com o Diretor de Programas da RTP propus esta ideia que tinha. Ele disse que era uma ótima ideia. Fiz o projeto do programa e apresentei e no dia da apresentação disse “vamos gravar”. E assim foi. Foi uma ideia que caiu do céu, mas lutei e trabalhei por isso”, contou.
Sobre o seu novo disco e a apresentação em Estremoz, sua terra natal, o fadista salientou que “poderia fazer este espetáculo em qualquer lado, com a Fafá de Belém é muito fácil. Este espetáculo teve seis datas marcadas antes do dia de hoje [sábado] e tivemos sempre de alterar, ora porque a DGS não autorizava, e sempre concordei com isso, porque a saúde está sempre em primeiro lugar. Depois as coisas foram andando, até que achámos que, passado este tempo, com todas as regras cumpridas, era possível fazer o espetáculo”.
“Achei que não devíamos estar a atrasar por mais tempo, e (…) eu queria mesmo que o primeiro fosse na minha terra. A opção foi vir para o Alentejo, desafiar a Fafá de Belém a fazê-lo também e ela aceitou”, enalteceu José Gonçalez, que sublinhou que este concerto “era muito importante para mim, até porque não cantava em Estremoz há 10 anos. Desde que me fui embora, nunca mais tinha feito aqui um espetáculo. Tinha também mais esse desafio de voltar à minha terra, ainda por cima numa data em que celebro 30 anos de carreira. Passam exatamente 30 anos desde a gravação do meu primeiro disco. Só fazia para mim sentido ser na minha terra, porque foi aqui que tudo começou”
“Para mim é importante que estas datas importantes das nossas vidas sejam celebradas e vividas junto dos nossos. Só fazia sentido este espetáculo ser aqui em Estremoz e comemorar estes 30 anos de carreira na minha terra”, disse.
Quanto aos projetos para o futuro, o estremocense admitiu que “nesta altura nem consigo pensar nisso. Daqui a oito dias vou atuar no Santa Casa Alfama. Dia 7 de outubro, recomeço no Porto o Grande Prémio Nacional do Fado, que tivemos de interromper por causa da pandemia. E dia 26 de outubro começo a gravar o Em Casa d´Amália e tenho também a promoção deste disco. É muito difícil nesta altura ter sequer cabeça para pensar para além disto, porque isto vão ser dias intensos até ao fim de dezembro”.
José Gonçalez saiu este sábado de Estremoz “de coração cheio e realizado. O frio ou estas circunstâncias que vivemos não tem que ser determinante naquilo que fazemos. O que vai ficar para a minha vida toda é que neste dia estive com a minha família e com a minha gente, na minha terra e que trouxe uma das maiores cantoras do Mundo e lancei um disco de celebração de 30 anos de carreira. Acho que está tudo certo. Vou valorizar o que fizemos, que foi muito bom e que me deixa muito feliz”.