O Festival Terras sem Sombra encerra a temporada de 2021, em Odemira, com chave de ouro, um programa de grande fôlego, em que se destaca o concerto pela reputada orquestra de câmara Terra Nova Collective, de Antuérpia, sob a direcção de Vlad Weverbergh (Cineteatro Camacho Costa, 18 de Setembro, 21h30).
Antes deste espectáculo, o Festival propõe uma visita ao Forte de São Clemente (18 de Setembro, 15h00), guardião da foz do Rio Mira há mais de 400 anos. E, na manhã de domingo (19 de Setembro, 9h30), o convite é para uma acção de biodiversidade que desvela os encantadores portinhos de pesca no concelho, esteios das comunidades piscatórias do litoral, conforme nota de imprensa enviada à nossa redação.
O último concerto da 17.ª edição do Festival, a cargo de um dos mais proeminentes ensembles europeus de música antiga da actualidade, promete ser um dos momentos altos do Terras sem Sombra numa edição que se caracterizou, toda ela, não só pela qualidade da programação, mas também pela grande adesão do público. Vindo da Bélgica – o país convidado de 2021 –, o Terra Nova Collective integra músicos oriundos de orquestras e ensembles de renome mundial e conta com actuações em grandes palcos internacionais.
Fundado em 2012 por Vlad Weverbergh, o colectivo tem como objectivo primordial contribuir para desenvolver o conhecimento dos repertórios barroco e clássico a partir de uma investigação musicológica pioneira, a que associa um élan interpretativo fora do comum. Esta orquestra de câmara cujo epicentro se situa na histórica cidade de Antuérpia, com grandes ligações a Portugal, apresenta em Odemira o concerto “Expressão de Forças Absolutas: Mozart e Vanderhaegen”.
A abrir o programa, interpreta Pièces d’harmonie, do famoso compositor flamengo Amand Vanderhaegan (1753-1822). Considerado um dos maiores clarinetistas da época, as suas composições conquistaram as audiências parisienses no período napoleónico e são ilustrativas do estilo clássico tardio.
Segue-se a Serenata para sopros, K. 361, “Gran Partita”, de W. A. Mozart (1756-1791). Composta para 12 instrumentos de sopro e um contrabaixo, a famosa serenata do prodígio vienense é considerada uma obra-prima vibrante, plena de expressividade e lirismo.
Contra ventos e marés: o Forte de São Clemente e os portinhos de pesca A derradeira acção de Património desta temporada tem como alvo o Forte de São Clemente, em Vila Nova de Milfontes (18 de Setembro, 15h).
Implantado, de forma estratégica, num esporão rochoso perto da embocadura do rio Mira, o Forte – conhecido localmente por castelo de Milfontes – visou as máximas possibilidades defensivas naturais, de modo a cobrir com eficácia a entrada do porto.
Foi erigido entre 1599 TSS21_ Odemira_Press-release 2 e 1602, em pleno período filipino, no contexto de grave assédio do corso marítimo, sobretudo por parte de piratas oriundos de Argel.
A fortificação – exemplo da arquitectura militar maneirista – é um Imóvel de Interesse Público, o único a ostentar tal classificação no concelho de Odemira. Referência paisagística incontornável na vila que protegeu e viu crescer, o guardião do rio Mira foi vendido em hasta pública em 1903. Desde então tem permanecido em mãos privadas e servido diversos propósitos, e aguarda hoje outros ventos e marés.
Esta visita é guiada pelo historiador António Martins Quaresma, grande conhecedor do património vilanovense, com a colaboração dos actuais proprietários do monumento.
No domingo de manhã (19 de Setembro, 9h30), debaixo da agradável brisa oceânica, tem lugar a acção de sensibilização para a salvaguarda da biodiversidade costeira.
O encontro está marcado para o Porto do Canal, nas imediações de Vila Nova de Milfontes, ponto de partida para um périplo por alguns dos portinhos de pesca do concelho (Vila Nova de Milfontes, Longueira-Almograve e São Teotónio). Guiados por António Jorge Campos (técnico municipal), António Martins Quaresma (historiador), Mário Pires e Fernando Manuel (pescadores), os participantes terão oportunidade de contactar com a actividade piscatória do concelho e compreender a importância económica e social de que se reveste no contexto local.
Cada povoação desenvolveu métodos e técnicas de pesca próprios, de carácter artesanal, adaptados às condições naturais das falésias e num sensível equilíbrio homem/natureza que tem permitido a preservação dos recursos.
Odemira é a última paragem do Festival Terras sem Sombra 2021, cuja temporada arrancou em Junho, em Barrancos. Neste ano atípico, o Festival alentejano celebrou o renascer sob o mote “Através do Incêndio: Contingências, Expectativas e Superações na Música Ocidental (Séculos XVI-XXI)”.
De Junho a Setembro, 10 concelhos das quatro sub-regiões alentejanas – Alto Alentejo, Alentejo Central, Baixo Alentejo e Alentejo Litoral – receberam as actividades do Terras sem Sombra, tendo-se estreado, como anfitriões, os municípios de Alter do Chão, Castelo de Vide e Viana do Alentejo.
Pautando-se pela qualidade da programação musical, o Festival apresentou (em territórios habitualmente fora dos circuitos principais artísticos) conceituados artistas internacionais na área da música erudita, em concertos de entrada livre.
São de referir também as acções de salvaguarda do património e da biodiversidade, eventos que complementaram em todos os fins-de-semana o programa musical e que revelaram alguns dos tesouros do património histórico e natural dos territórios visitados. O Festival Terras sem Sombra é uma estrutura financiada pela Direcção-Geral das Artes