O presidente da sub-região de Portalegre da Ordem dos Médicos (OM), Hugo Capote, alertou hoje para a falta de clínicos de Medicina Interna no hospital da cidade e avisou que as carências afetam também outras especialidades.
“Há uma pressão enorme, especialmente sobre aquela especialidade médica, que é basilar em qualquer hospital”, mas os problemas da unidade de saúde vão “muito para lá da Medicina Interna”, afirmou à agência Lusa o responsável.
Segundo o também diretor do Serviço de Urgências do Hospital Dr. José Maria Grande, em Portalegre, os problemas desta unidade hospitalar não se resumem à carência de internistas, pois existem “lacunas em variadíssimas especialidades”.
“Não há uma especialidade médica no hospital de Portalegre que, atualmente, não dependa de tarefeiros, de empresas prestadoras de serviços, para cumprir as suas obrigações assistenciais, nomeadamente ao nível da urgência”, sublinhou.
Hugo Capote falava a propósito de um comunicado da sub-região de Portalegre da OM sobre a carta aberta de descontentamento enviada pelos médicos de Medicina Interna daquele hospital ao conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA).
No comunicado, a estrutura de Portalegre da OM confirmou “o défice de internistas no hospital de Portalegre”, salientando que a situação reflete-se “no excesso de trabalho e exaustão física” dos clínicos, que “inevitavelmente contribuirão para uma falta de segurança clínica dos doentes e dos médicos”.
“Estas lacunas fazem-se sentir há vários anos, mas o período de pandemia que atravessámos e que exigiu imenso de todos os internistas, somado à falta de respostas da tutela, só veio agudizar os problemas”, sustentou.
Contudo, notou a OM, o défice de especialistas “não se resume à Medicina Interna”, uma vez que também faltam ginecologistas, pediatras, cardiologistas, pneumologistas, intensivistas e anestesiologista, ortopedistas, gastroenterologistas, imuno-hemoterapeutas, imagiologistas e urologistas.
Nas declarações à Lusa, o presidente da sub-região de Portalegre da OM reconheceu que o conselho de administração da ULSNA tem vindo a “envidar esforços para resolver” o problema da falta de médicos, mas frisou que “nunca é fácil” encontrar soluções.
“Os concursos abrem e ficam vazios na maior parte dos casos e, se não há renovação de quadros médicos e nem sequer há prestadores, os cuidados de saúde em determinadas áreas deixam de estar disponíveis aos doentes de Portalegre”, argumentou.
Quando isso acontece, continuou Hugo Capote, os doentes são “encaminhados para outras unidades hospitalares, em Lisboa ou Évora”, cujas urgências “já estão congestionadas e ficam muito mais, pois ainda receberão estes doentes de Portalegre”.
De acordo com o médico, metade dos doentes que dão entrada nas urgências do hospital de Portalegre “não são urgentes”, mas sim pessoas com “doenças crónicas que não estão estabilizadas, porque não há cuidados de saúde primários” no distrito.
“Isso entope os serviços, cria horas e horas de espera, gera frustração para doentes e para médicos, que estão constantemente sob a pressão de doentes, de familiares e de outros colegas e acaba por, muitas vezes, dificultar o acesso das verdadeiras urgências aos cuidados de saúde hospitalares”, acrescentou.
Os 12 subscritores da carta aberta, à qual a Lusa teve acesso, escrevem que “o Serviço de Urgência está em rotura completa”, à qual “se soma uma incapacidade humana da observação e avaliação de todos os doentes internados a cargo da Medicina Interna”.
“Não estão asseguradas as condições mínimas de qualidade assistencial, nem de segurança, nem para os profissionais de saúde, nem para os doentes”, avisam.
No sábado, em declarações pela Lusa, o porta-voz da ULSNA, Ilídio Pinto Cardoso, refutou a alegada rotura das urgências do hospital de Portalegre, garantindo que as escalas estão “todas preenchidas e não há falta de médicos”.
C/ Lusa