Hoje, dia 29 de outubro, assinala-se o Dia Mundial do AVC (Acidente Vascular Cerebral). O AVC é uma doença que, segundo a Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral é “a principal causa de morbilidade e de potenciais anos de vida perdidos. Os números são reais e podemos mesmo referir que, por hora, três portugueses sofrem um AVC, sendo que um destes não sobrevive e um ficará com sequelas incapacitantes”. Uma doença com uma taxa de mortalidade de cerca de 10 mil pessoas por ano em Portugal.
O AVC é uma doença muitas vezes esquecida ou identificada como sendo de pessoas mais velhas, no entanto, atinge pessoas de todas as idades e sem aviso prévio.
Em entrevista à RC, Diana Wong Ramos, uma sobrevivente de AVC e membro do grupo Portugal AVC fala um pouco daquilo que é um AVC, como se vive com esta doença e conta-nos a sua história.
Em 2011, aos 34 anos, Diana levava uma vida muito atarefada entre o trabalho e a vida familiar, com dois filhos ainda pequenos, e revela que “não era a pessoa mais saudável”. Conta que “tinha muito pouco tempo para mim, para praticar algum desporto, a alimentação também era muito fraca e para agravar, fumava”. Foi então que “sem aviso” teve um AVC, algo que não esperava pois “pensava que o AVC era uma coisa que só acontecia a pessoas mais velhas, enganei-me”. Diana ficou “com sequelas do meu lado esquerdo, ou seja, as minhas sequelas são visíveis, em termos motores tenho dificuldade a andar e o meu membro superior não é funcional. Tirando isso tento fazer a minha vida o mais normal e saudável possível, porque não quero que se repita”.
O AVC pode sempre repetir-se ao longo da vida, por isso, explica, deve-se “trabalhar na prevenção secundária”, pois “não é por a pessoa já ter sofrido um AVC que já não vai sofrer outro, pelo contrário, as probabilidades até aumentam. Se sofremos um AVC alguma coisa não estávamos a fazer bem, então temos de rever os hábitos e rever quais as nossas prioridades”.
Sobre o que é um AVC e tudo o que tem pesquisado pela doença que conta que existem sinais de alerta “fáceis de perceber”. “São os 3F’s: a fala a arrastada ou a ausência de fala, a pessoa não conseguir falar; um olho caído, a boca caída, o músculo da cara ficar estranho; e a falta de força num membro, no braço, na perna, a pessoa querer levantar a mão e não conseguir”.
Sempre que alguém está na presença de um destes sinais ou mesmo dos três, deve “imediatamente chamar o 112 porque o AVC é uma emergência médica, sempre foi uma emergência médica e continua a ser apesar da COVID”. Acrescenta que “é assustador perceber que durante a pandemia houve menos pessoas a acederem à Via Verde do AVC, não porque não estivessem a sofrer um AVC, mas porque tinham medo de como iriam ser tratados, se iriam apanhar COVID nos hospitais e isso não pode acontecer”.
Um AVC é uma doença que está relacionada com a forma de vida de cada pessoa. Como explica esta sobrevivente, “o que contribui para o aumento dos AVCs é o colesterol alto, diabetes, tensão alta, vida sedentária, alimentação pobre e rica em gorduras e isso tudo é possível de prevenir”. Se uma pessoa estiver a sofrer um AVC e não for imediatamente socorrida, pode acontecer “o pior desfecho: a morte ou então as sequelas ficam para sempre, ou seja, mais neurónios morrem e mais difícil é a pessoa recuperar daquela falha de oxigenação do cérebro que o AVC provocou”.
Existem dois tipos de AVC: o isquémico, que acontece por entupimento, e o hemorrágico que é quando uma artéria eclode. No entanto, “o importante é que as pessoas percebam que pode-se prevenir, vamos sempre a tempo de deixar de fumar, de levar uma vida mais ativa, de praticar algum tipo de desporto e fazer uma alimentação saudável e também estar alerta para os sinais”.
A Portugal AVC lançou um livro com 21 testemunhos de sobreviventes, cuidadores e familiares. Sobre este livro refere que são histórias de pessoas que “conseguiram renascer”.
Diana Wong Ramos, sobrevivente um AVC aos 34 anos, garante que quem sobrevive está mesmo a “renascer”, pois “tem de reaprender tudo”.
Sobre o contexto atual da COVID-19, afirma que “mais do que nunca faz muito sentido falar nisso, porque infelizmente devido à pandemia os sobreviventes de AVC têm-se visto privados do acesso à reabilitação e quando digo isto, não é só aos cuidados de fisioterapia. Uma reabilitação de um sobrevivente de AVC é a fisioterapia, é a terapia ocupacional, serviço de psicologia, serviço de nutrição, terapia da fala, etc. Só assim faz sentido em falar em reabilitação multidisciplinar. Infelizmente, no contexto de pandemia que estamos a viver, estamos a assistir aos sobreviventes a não terem acesso a um serviço de reabilitação porque os serviços estão a ser fechados para dar lugar a enfermarias SOS para doentes COVID. Eu entendo que temos todos de ser ajudados, mas não podemos prejudicar uns a favor de outros e os sobreviventes de AVC não merecem nem podem ficar para segundo plano”.
Relata que na Portugal AVC têm recebido “muitos pedidos de ajuda” pois “os familiares dos sobreviventes estão completamente perdidos e não sabem o que fazer. Neste momento a reabilitação está a ser passada para segundo plano e isso não pode acontecer, porque nós não temos um medicamento milagroso, o nosso medicamento é a reabilitação e isso não se vende nas farmácias”.