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“Peço a Deus para ser do povo Alentejano e Ribatejano”, confessa novo Arcebispo de Évora (c/som)

O novo arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho, cuja entrada solene na Sé Catedral de Évora está marcada para dia 2 de setembro, pelas 17h, onde irá receber o pálio abençoado pelo Papa Francisco, falou à Campanário sobre a missão que o conduz novamente ao Alentejo, onde viveu e foi pároco, durante 34 anos. Ao mesmo tempo, demonstrou toda a sua admiração pelo povo Alentejano, que considera “resiliente”, sublinhando que os alentejanos merecem uma igreja “transparente”, assente na proximidade, sobretudo “dos que sofrem”. Por isso, deseja ter “coração para todos”.

Na sua entrevista, D. Francisco Senra Coelho começou por explicar que “quando nós somos ordenados Bispos, somos ordenados para a Igreja. É uma das grandes dimensões do episcopado, é a igreja universal: um padre, um presbítero é ordenado por uma diocese, um bispo é ordenado para a igreja universal”. Por isso “eu peço muito, a todos os que me ouvem, que rezem por mim, para que eu seja da Igreja, para que não seja meu”. Para que seja, como diz a expressão que “o terreno baldio não é de ninguém e é de todos” e nesse sentido “o bispo é de todos” e “tem que ter coração para todos, tem que ter espaço para todos, tem que ter tempo para todos”.

Assim “eu peço a Deus que tenha de facto essa tenda alargada no meu coração para ser do povo Alentejano e Ribatejano, que constitui a arquidiocese de Évora”. Além disso, “gostaria muito de ter amizade, leal, fraterna, no grau da confiança, porque é quando há confiança que é possível partilhar o sentido íntimo da vida”.

Isto sem exceções, para e “com todos, os que andam à busca de uma luz, que não encontram, que se definem como agnósticos”, ou “aqueles que fizeram já a sua descoberta na linha existencial do ateísmo”, ao mesmo tempo que “gostaria muito de abraçar os que estão ocupados com outras dinâmicas e permanecem alheios ou indiferentes à questão de Deus”. Por outro lado, “queria abraçar todos os meus irmãos e irmãs na fé cristã, abraçar cada homem, cada mulher, cada jovem e também aqueles cristãos de outras expressões de fé, no sentido ecuménico”, explica D. Francisco Senra Coelho.

Sobre as expetativas em voltar, depois de ter saído do Alentejo para rumar a Braga, refere que “sentia muitas vezes, nos contatos pessoais que mantinha com a amizade de quem esteve aqui 34 anos, sentia que havia pessoas que me desafiavam e diziam muitas vezes que ‘gostávamos de o voltar a ver em Évora’, é uma realidade”. Contudo, desde que partiu de Évora, “não mantive uma relação de manutenção ou de qualquer modo pudesse ser intromissão na paróquia onde eu fui pároco e onde tive uma missão muito específica, da construção do Centro Social Paroquial, o Centro Comunitário dos Pastorinhos de Fátima”, mas “saí mesmo, não acompanhava pessoalmente”.

Contudo, “de vez enquanto, chegava esse desafio”, mas como “um desejo dos amigos” e “uma atitude de pessoas que manifestam a sua saudade”. Ao mesmo tempo “pareceu-me que ao ir para o norte, que a Igreja estava a indicar-me um espaço de trabalho” e que “tem a ver com as minhas origens”, “por isso, não posso deixar de dizer que foi com espanto que vi essa concretização de vir outra vez para Évora”.

Nesse sentido, D. Francisco José Senra Coelho diz que ficou “muito contente por o Senhor me chamar a este povo”, do Alentejo. Que é “um povo que eu admiro muito, o povo alentejano”, que tem “muita sabedoria, com capacidade de silencio, com muita resiliência” e “ao mesmo tempo com um olhar muito alargado” e que “nasceu para ser livre”. Mas ao mesmo tempo “sofrido, que já viu passar por aqui muita gente”.

O novo Arcebispo de Évora diz ainda que os alentejanos são “um povo que me cativa”, porque “é um povo que exige verdade, não gosta de duplicidade, não gosta de hipocrisia, que exige uma igreja verdadeira, transparente” e “uma igreja que esteja numa linha do serviço e que se identifique com o seu fundador, Jesus Cristo”.

No que diz respeito à condução dos destinos da Diocese de Évora, sublinha que “não venho para dirigir, não venho com a preocupação de liderar, eu venho para caminhar com” e “irmos caminhando juntos, conversando, falando, descobrindo o que nos dizem os sinais dos tempos e o que nos pedem os corações humanos”, no sentido de “juntos, como cristãos, respondermos”. Afirma querer “fazer o caminho com o povo desta igreja alentejana e ribatejana”.

Até porque “somente na proximidade, no encontro pessoal, é possível construir-se com verdade, não fazermos de facto acontecimentos que são fictícios”. Por isso “temos mesmo grandes desafios”, uma vez que “há muitos idosos, há muitas pessoas sós e é necessária uma pastoral, uma igreja, que conheça a cor dos olhos e o timbre da vós e que ponha a mão na mão”.

Mas o novo Arcebispo de Évora diz ter a intenção de levar “a presença de Cristo junto de todos, em primeiro lugar dos que sofrem, aqueles a quem o Papa Francisco chama as periferias, as periferias sociais e as periferias existenciais”, isto é, “no sentido da pobreza, da solidão” e “no sentido do vazio interior, da escuridão, da falta de sentido, da solidão intima, do sofrimento de alma”.

 

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