O jovem português que, desde 2020, está a dar volta ao mundo numa minimota chega segunda-feira a Timor-Leste e vai encontrar-se com o Presidente da República desse país, revelou hoje o motociclista.
Com residência em Oliveira de Azeméis, no distrito de Aveiro, e tendo iniciado viagem em Avis, no de Portalegre, André Sousa deixou Portugal a 12 de julho de 2020 para tentar obter o recorde mundial e percorreu desde então mais de 55.000 quilómetros através de 40 países, sempre numa Honda Monkey 125 com nove cavalos e 70 centímetros de altura.
O jovem de 26 anos está atualmente em Darwin, na Austrália, e foi nesse país que conheceu dois advogados das Nações Unidas que, tendo trabalhado vários anos em Timor e privado com José Ramos Horta, reconheceram na viagem do português o tipo de aventura que interessaria ao atual Presidente timorense – laureado com o Prémio Nobel da Paz em 1996.
“Esse casal amigo tratou de tudo, pôs-nos em contacto e agora está combinado com o assessor do Ramos Horta que me vou encontrar com o Presidente no dia 23 de agosto, embora sem a moto, que só sai de barco da Austrália no dia 24 e não vai chegar a tempo de aparecer na fotografia”, revela André Sousa à Lusa, a partir de Darwin.
A ausência do veículo no encontro oficial não impede a satisfação do motociclista, que assume: “Mal percebei que podia passar por Timor, isso passou a ser um sonho. Queria conhecer o país, que foi uma antiga colónia portuguesa, e queria sobretudo conhecer o Ramos Horta, por tudo o que ele fez pela independência daquela terra”.
Inicialmente, a passagem por Timor não estava prevista no projeto “Ride That Monkey”, mas passou a integrar o respetivo roteiro quando o sentido da viagem teve que ser invertido para assim se contornar o facto de que, em meados de 2020, a maioria das fronteiras internacionais ainda estava fechada ou impunha sérias limitações de mobilidade devido à covid-19.
“A ideia era ir logo da Europa para a Ásia, mas tive que alterar o sentido da viagem e começar pelas Américas. Por isso é que agora, estando na Austrália e tão perto de Timor, fiz mesmo questão de passar por lá e pela Indonésia antes de seguir para a Malásia e a Tailândia”, explica o português.
Myanmar, Índia, Paquistão, Irão, Turquia e “alguns países do Norte de África” são os destinos seguintes, para que a viagem atravesse efetivamente “todos os continentes do globo” antes do regresso a Portugal, previsto para maio ou junho de 2023.
Entretanto, em Darwin, André Sousa tem continuado a receber tratamento às lesões com que ficou nas costas depois de ter sido abalroado por um camião na Califórnia, nos Estados Unidos, o que aí o forçou a uma paragem de dois meses. O problema foi atenuado com fisioterapia e vem exigindo medicação regular, mas as dores intensificaram-se na Austrália após vários dias de travessia consecutiva do deserto entre Cairns e Darwin, num total de 2.500 quilómetros.
“Tive que ficar uma semana deitado, totalmente parado, e agora estou a ser acompanhado por um quiroprático, que já me ofereceu três consultas de 110 dólares cada, como forma de apoiar o projeto”, realça André Sousa.
O motociclista nota, aliás, que a viagem tem ficado “bem mais cara do que o previsto”, devido a dificuldades relacionadas com a pandemia e a imprevistos de saúde. O acidente nos Estados Unidos, por exemplo, implicou dois meses de alojamento comercial na zona de Beverly Hills, onde “o hambúrguer mais básico não custava menos de 10 euros“, e, só para transportar moto e condutor desde Santiago do Chile até Sidney, “a despesa foi de 6.000”, ao que acresce agora o custo de “uma série de documentação” que as autoridades australianas exigem à travessia de Darwin para Timor.
Fazer face a essas e outras alterações de orçamento só tem sido possível graças aos patrocinadores do projeto e aos “donativos e apoios de muita gente diferente, de todo o mundo” – como é o caso da família portuguesa que esta semana acolhe André Sousa em Darwin e dos 40 seguidores de vários países que lhe doaram 50 ou 100 euros em troca de terem o seu nome gravado no tanque de combustível da minimoto.
Nas etapas seguintes da viagem, pela Ásia e por África, “vai haver ainda mais burocracia a pagar”, mas, para cortar nas despesas de estadia e alimentação, o jovem procurará circular por zonas onde vivam emigrantes lusos que o possam receber. André Sousa reconhece que tem sido acolhido sobretudo por estrangeiros, mas não esconde a preferência: “Gosto sempre mais de ficar com portugueses. Eles fazem de tudo para me ajudar e facilitar a vida, e, quando estamos juntos, é como regressar a casa um bocadinho”.