O Presidente da República considerou hoje que a pandemia tornou impossível fixar metas temporais para retirar da rua as pessoas em situação de sem-abrigo, apontando que não sabe se tal será possível até ao final do seu mandato.
Marcelo Rebelo de Sousa visitou hoje, em Lisboa, o centro de acolhimento para pessoas em situação de sem-abrigo localizado no Quartel de Santa Bárbara.
Este espaço, que abriu portas em setembro, alberga atualmente 83 pessoas mas tem capacidade para 128.
O chefe de Estado visitou os vários espaços, desde as camaratas à sala de informática, passando pelo gabinete médico e o refeitório, onde serviu refeições nesta noite de Natal, equipado a rigor para o efeito com um avental, luvas e uma proteção de plástico na cabeça.
A acompanhá-lo estiveram o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e a vereadora com o pelouro dos direitos humanos e sociais, Laurinda Alves.
No final da visita, em declarações aos jornalistas, o Presidente da República afirmou que o número de pessoas em situação de sem-abrigo diminuiu quando o país estava a recuperar da última crise económica e “apontava-se para 2023 no sentido de, salvo aqueles que quisessem continuar na rua, todos os que não quisessem terem condições de acesso à habitação, de apoio na saúde mental e de reinserção profissional”.
No entanto, “veio a pandemia – pensava-se uma coisa que era um ano, agora dois anos, vamos ver como é a duração -, torna imprevisível, é impossível honestamente estar a fixar metas”.
“Em 2023 não é possível, obviamente, agora vai para 2025, vai para 2026, vai para 2027, depende da duração da pandemia”, apontou.
Questionado se será possível retirar da rua as pessoas sem-abrigo até ao término do seu mandato em Belém, Marcelo disse que não sabe “se é possível até 2026 […] prometer isso”.
“É uma exigência tão difícil e tem esta condicionante da pandemia. Com a pandemia ainda presente no final e 2021 e no começo de 2022, se se prolongar por 2022 torna-se mais problemático o cumprimento dessa meta”, ressalvou.
Ainda assim, salientou que vai manter “a meta de não largar isto nunca, quer como Presidente quer depois de ser Presidente” porque “é uma meta de vida”.
O chefe de Estado destacou também a resposta dada a estas pessoas pelas autarquias, as instituições e o Estado, que “tem sido muito boa”, e considerou que este centro de acolhimento tem uma “organização espetacular”.
Também em declarações aos jornalistas, o presidente da Câmara de Lisboa indicou que recentemente foram encerrados dois espaços “provisórios”, porque “as condições não eram dignas”, mas a capital tem respostas para acolher “700 pessoas”.
“Hoje, em Lisboa, as pessoas que estão numa situação difícil sabem que podem recorrer à Câmara Municipal e que nós temos solução”, afirmou Carlos Moedas, garantindo que “ninguém fica sem ser ajudado”.
E concordou que não é possível traçar metas para acabar com as situações de sem-abrigo “porque não seriam realistas”.
Durante a visita, Marcelo Rebelo de Sousa falou com algumas das pessoas acolhidas neste espaço, entre os quais Sandro Miguel, que lhe explicou que é “um homem ‘trans’ de 27 anos” que está “na rua há três anos e meio” porque a família não o aceitou.
“Não aceitou? Mas é uma realidade que existe. Nós temos de aceitar os outros como são, somos todos diferentes, não há duas pessoas iguais. Se queremos que os outros copiem exatamente o nosso modelo, a vida torna-se insuportável”, defendeu.
No dia de Natal, o Presidente realizou o sonho de Sandro Miguel, que era conhecê-lo pessoalmente. Para assinalar o momento, os dois fizeram a ‘selfie’ da praxe e o jovem fez questão de oferecer ao chefe de Estado uma pintura da sua autoria.
Um abraço era desejado, mas não foi possível porque nem no dia de Natal a covid-19 dá descanso: “Senão a doutora Graça Freitas aplica-me logo uma sanção”, brincou o Presidente da República.