Numa conversa conduzida pela jornalista Augusta Serrano da Rádio Campanário, a Manuel António Conde Galante, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Reguengos de Monsaraz, que partilhou os desafios que a instituição enfrenta e as medidas que estão a ser tomadas para garantir a sustentabilidade dos seus serviços. A entrevista abordou questões relacionadas com a gestão financeira da Misericórdia, o funcionamento do Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão (CACI), e as preocupações futuras face às dificuldades crescentes das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS).
Augusta Serrano: A Santa Casa da Misericórdia de Reguengos de Monsaraz oferece diversas valências de apoio social, incluindo o Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão. Quantos utentes beneficiam atualmente deste serviço?
Manuel Galante: O Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão é uma resposta social crucial para nós. Atualmente, temos 30 utentes inscritos no CACI. Desses, muitos também residem na nossa instituição, mas há outros que apenas frequentam o centro durante o dia. Este serviço é vital para o desenvolvimento pessoal e a inclusão social dos nossos utentes, permitindo-lhes uma maior participação na comunidade, apesar das suas limitações.
Augusta Serrano: As IPSS, em geral, enfrentam atualmente desafios financeiros significativos. Como é que a Santa Casa de Reguengos de Monsaraz está a lidar com estas dificuldades?
Manuel Galante: Como em muitas outras instituições, estamos a passar por um período muito desafiante. A nossa estratégia tem sido lutar todos os dias para garantir a sustentabilidade dos nossos serviços. Recentemente, iniciámos a instalação de painéis fotovoltaicos em todas as nossas respostas sociais. Esta iniciativa deve permitir uma redução significativa, superior a 40%, na nossa fatura de eletricidade. É um passo importante para reduzir os custos operacionais, mas sabemos que não é suficiente. Precisamos de mais apoio, especialmente do Estado, para alcançar um nível de financiamento que cubra efetivamente os custos reais das nossas atividades.
Augusta Serrano: Como é que a Santa Casa tem conseguido manter o equilíbrio financeiro, dado o aumento que se verificam nas despesas?
Manuel Galante: Até agora, temos conseguido manter um equilíbrio financeiro razoável, mas isso exige uma gestão muito cuidadosa e constante. As despesas aumentaram consideravelmente, mas temos feito um esforço enorme para otimizar os nossos recursos. Contudo, se as condições não melhorarem, temo que não seremos capazes de manter este equilíbrio por muito mais tempo. Estamos a trabalhar para evitar que a instituição entre numa situação financeira crítica, mas a realidade é que estamos a caminhar numa linha muito ténue.
Augusta Serrano: Pode-nos falar sobre o impacto destas dificuldades na gestão dos recursos humanos da Santa Casa?
Manuel Galante: Atualmente, temos 116 funcionários, o que faz de nós uma das maiores empregadoras da região. Gerir este número de colaboradores é uma grande responsabilidade, especialmente porque muitas famílias dependem do seu trabalho aqui. Até agora, conseguimos cumprir com os nossos compromissos salariais, mas, como disse, estamos numa situação de equilíbrio precário. A nossa prioridade é sempre garantir que os nossos colaboradores recebam o seu salário atempadamente, mas as dificuldades financeiras podem tornar este objetivo cada vez mais difícil de alcançar.
Augusta Serrano: O que o preocupa mais em relação ao futuro da Santa Casa?
Manuel Galante: A minha maior preocupação é que, se não conseguirmos garantir um financiamento adequado e sustentável, poderemos não ser capazes de continuar a prestar os serviços de qualidade que a comunidade espera de nós. As exigências e os custos continuam a aumentar, e sem um apoio adequado, tanto a nível estatal como comunitário, será difícil continuar a assegurar o bem-estar dos nossos utentes e a estabilidade dos nossos colaboradores. Estamos a lutar todos os dias, mas precisamos de mais apoio e soluções eficazes para garantir a sustentabilidade da instituição a longo prazo.
Conclusão: Manuel António Conde Galante reforça a necessidade de o Estado assegurar uma comparticipação mais justa, sugerindo que esta atinja pelo menos 50% dos custos das respostas sociais. Esse apoio é visto como fundamental para manter o equilíbrio financeiro da Santa Casa da Misericórdia de Reguengos de Monsaraz e garantir a continuidade dos seus serviços. Sem esta ajuda, a sustentabilidade da instituição e o bem-estar dos seus utentes poderão estar em risco.