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Romão Ramos membro da estrutura política do BE desfilia-se do partido e diz: “Não me revejo mais neste Bloco de Esquerda!“

Carta de demissão de Romão Ramos ao Secretariado Nacional do Bloco de Esquerda à Comissão Política e à Mesa Nacional.

“A implementação da PGA e de propinas no Ensino Superior na primeira metade da década de 1990 promoveram um clima de contestação juvenil no País sem paralelo desde o PREC. O alargamento do movimento permitiu que no seu seio, várias outras causas da esquerda radical ganhassem visibilidade e notoriedade: anti-SMO, LGBT, Interrupção Voluntária da Gravidez, contra o racismo e a xenofobia, Legalização da Cannabis.

Na segunda metade da mesma década, novas lutas, pelas Gravuras do Côa, pelo fim das portagens da ponte 25 de Abril, pela Regionalização, ambientalistas contra os ensaios nucleares no Pacífico, etc, etc, impulsionadas pelo movimento social crescente que derrubara o Cavaquismo, encheram praças e avenidas das principais cidades pedindo o fim dos bombardeamentos na Jugoslávia, o fim da NATO e a independência de Timor. 

Foi neste quadro que em finais de 1995 filiei-me na União Democrática Popular.

O balão de oxigénio do movimento social de então deixou aberto a necessidade de dar corpo político a esse crescendo. Assim surge o Bloco de Esquerda! O Miguel Portas resumiria mais tarde este quadro numa frase mais ou menos assim,“ o crescendo do movimento social precisava de uma representação na Assembleia da República, o BE surge como um movimento, uma praça, onde os activistas confluiam naturalmente e a partir do Bloco amplificavam as suas lutas”.

Foi neste quadro que dediquei grande parte da minha juventude à construção do Bloco de Esquerda, nos primeiros encontros entre os partidos políticos, na recolha de assinaturas para a sua legalização, na sua fundação, na organização dos primeiros eventos, nas primeiras campanhas e como dirigente nacional nas duas primeiras Mesas Nacionais.

A Geringonça que marcará indiscutivelmente um interface na História da Política Portuguesa, procede portanto a outro momento que ficará marcado pelas novidades das lutas e da transformação profunda que o Bloco de Esquerda promoveu na sociedade Portuguesa.

O desaparecimento do Miguel Portas e depois do João Semedo dissolveram no interior do BE duas das correntes fundadores do Partido, a Política XXI e os espaço dos independentes, tornando hegemônicas as outras duas, a UDP, agora organizada como Tendência Esquerda Alternativa e o PSR como Rede Anticapitalista.

Aos dias de hoje, estas duas correntes dividem entre sí o aparelho partidário, os recursos do partido e usam-os a seu belo prazer para a partir do Parlamento e da Rua da Palma, condicionarem a totalidade do Partido às suas estratégias internas, remetendo para segundo plano a genética identitária do Bloco.

O mais recente caso, da Mesa Nacional impor uma candidatura no Distrito de Santarém às próximas legislativas, à rebelia de uma decisão maioritária dos militantes do distrito (cerca de 70%) é a situação mais flagrante de um partido num delírio febril de aparelhismo, centralismo democrático, sectarismo e ortodoxia completamente desligado das bases.

A matriz de subsistência das tendências maioritária do Bloco passou a ser exactamente aquela a que a história dos partidos comunistas e socialistas do centro e leste da Europa assinalou como as fatais. O Socialismo só o é, quando é popular, genuíno, construído e participado a partir das bases. O seu contrário é uma encenação de sobrevivência das castas internas!

A vergonhosa promoção de deputados ministráveis promovida na última convenção e a nomeação de uma ex-deputada, vereadora no Município de Torres Novas para uma Comissão à qual o Bloco votou contra a sua constituição (auferindo um salário mensal de quase 5000€ entre vencimento base e ajudas de custo) são o espelho maior da ansiedade e da necessidade de cargos de nomeação política para manter o aparelhismo a que hoje o Secretariado e a Comissão Política do Bloco de Esquerda estão rendidos.

Não me revejo mais neste Bloco de Esquerda!

É nos movimentos sociais, nas lutas genuínas, nas ruas e nas praças que me continuarão a encontrar a construir o Socialismo, a terra sem amos!

Demitindo-me previamente dos lugares ocupados enquanto dirigente Distrital no Secretariado e na Comissão Coordenadora Distrital de Santarém, solicito a minha desfiliação do Bloco de Esquerda.

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