Em pleno período de seca, os criadores de gado em regime biológico consideram que seria “um alívio” o Estado autorizar os animais a fazer uma alimentação convencional, com menos custos, para minimizar prejuízos nas explorações pecuárias.
Na Quinta da União, situada na freguesia rural de Urra, no concelho de Portalegre, a agricultora Patrícia Elias, que possui em regime extensivo cerca de 170 bovinos e 60 ovinos ao longo dos 430 hectares da propriedade, é uma das criadoras em regime biológico que reivindica essa ‘exceção’.
A produtora pecuária explicou à agência Lusa que “existe uma derrogação” no modo de produção biológico que, em caso de catástrofe (incêndios ou seca), o Estado possui autoridade para que os produtores possam utilizar alimentação convencional, sem perderem o “selo” de produtores biológicos.
“Isso seria um grande alívio na carga de despesas que as explorações têm. Era muito importante que fosse autorizada essa derrogação, porque as explorações que não tenham alimento armazenado o suficiente, não vão conseguir cumprir as necessidades básicas dos animais, não vamos conseguir que eles estejam bem alimentados”, alertou.
Com pouco pasto natural nos parques da quinta e com as sementeiras comprometidas devido à falta de chuva, Patrícia Elias explicou também que as matérias-primas para produzir ração biológica “são muito mais caras” do que as matérias-primas utilizadas para a alimentação convencional, situação que dificulta as contas aos produtores.
Apesar dos custos e de um controlo “mais apertado” por parte das autoridades pecuárias em termos alimentares, a produtora relatou que o modo biológico apresenta outras vantagens em relação ao regime convencional.
Um dos proveitos que a produção biológica oferece, segundo a criadora, é a manutenção da fertilidade do solo, pois os animais, neste tipo de regime, “não estão no mesmo local, não há um grande pisoteio” do terreno.
“Não há erosão do solo por eles estarem sempre no mesmo parque, pastoreiam pastos distintos, têm várias rotações, conseguem manter o ciclo das pastagens”, acrescentou.
A agricultora alertou ainda que, caso não chova nos próximos tempos, aquela exploração agrícola não vai conseguir produzir “nem um terço” dos alimentos para os animais, comparado com o que conseguiu produzir na anterior campanha.
“Para o ano, nesta altura [caso não chova nos próximos tempos], já teremos de ter comprado a um produtor de produção biológica ou a um vendedor ração ou, então a fenossilagem, ou o feno para dar aos animais, não vamos conseguir produzi-la”, lamentou.
Preocupada em cumprir as regras de bem-estar animal envolvidas no modo de produção biológico em regime extensivo, Patrícia Elias indicou ainda que os produtores que ingressam neste regime têm de garantir que a exploração produz em “cerca de 60%” os alimentos que os animais consomem.
“Nós somos obrigados pelo modo biológico a produzir esses alimentos aqui na nossa exploração, caso não nos seja possível produzir esses 60% podemos sempre ir aqui aos nossos vizinhos que estejam em modo de produção biológico e recolher alguma alimentação, comprar-lhes alguma alimentação”, explicou.
Caso não consiga atingir as metas de produção ou adquirir alimentos numa exploração vizinha, a produtora disse que poderá comprar o produto junto do comércio, sendo este tipo de alimentação por vezes ‘escasso’ nesse tipo de circuito comercial.
Pela Quinta da União, as reservas de água ainda não atingiram as quotas mínimas, mas caso a chuva não apareça nos próximos tempos, a época de verão poderá ser “mais um problema” para a exploração agrícola.
“Eu acho que, se não chover, o problema não será agora, não se irá notar já agora, no verão é que iremos ter graves problemas no abeberamento animal, porque se não chover, essas nascentes e esses furos poderão, possivelmente, ficar sem água”, alertou.
C/Lusa