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Quarta-feira, Abril 24, 2024

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“Há mais edifícios com 2 mil anos de história, a questão aqui interessante é que são 2 mil anos de história de defesa”, diz o arquiteto Pedro Pacheco (c/som)

Foi esta manhã assinado o auto de consignação da empreitada de consolidação e restauro dos parâmetros do perímetro abaluartado exterior e cerca islâmica e medieval interior da Fortaleza de Juromenha.

A cerimónia de assinatura decorreu na Igreja Matriz de Juromenha, no interior da fortaleza, e contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Alandroal, João Grilo, do Presidente da CCDR do Alentejo, Dr. António Ceia da Silva, da Diretora Regional de Cultura do Alentejo, Drª. Ana Paula Amendoeira, assim como dos arquitetos responsáveis pelo projeto, Arq. Pedro Pacheco e José Aguiar.

Trata-se de um investimento de  4.663.809,27 euros, com uma comparticipação de cerca de 300 mil euros por parte da autarquia de Alandroal.

A Rádio Campanário esteve presente nesta cerimónia e falou com o arquiteto Pedro Pacheco que nos referiu que nestas obras de consolidação e restauro “há aqui uma estrutura que tem a ver com o interior da cidadela que nós não podemos tocar, isto será objeto de uma futura campanha arqueologica, onde será necessário desenterrar todas estas infraestruturas.”

Segundo o arquiteto, “há imensos edifícios com 2000 anos de história, a questão aqui (em Juromenha) interessante é: dois mil anos de história de defesa, portanto sempre ligado à defesa e a construções defensivas, isso é que é interessante, essa sobreposição de múltiplas tipologias, mas todas com o mesmo objetivo.”

No que diz respeito ao projeto de consolidação e restauro, Pedro Pachero referiu-nos que “aquilo que se coloca ao nível do projeto é consolidação das estruturas defensivas do século XVII, do período pós reconquista, que é a estrutura abaluartada do exterior, ou seja, a Fortaleza moderna.”

O arquiteto explicou-nos o método de como foi construida, sob um rochedo, a Fortaleza, referindo “imaginando Juromenha como uma grande topografia em rochedo, se recuarmos a dois mil anos atrás, há uma construção em torre, provavelmente, que se sobrepõe à geologia, depois, sucessivamente, vão-se acrescentando novas camadas”, acrescentando ainda que “há um Castelo Medieval que é feito, e que é a estrutura da reconquista”, e ainda “todo o paramento interior islâmico, que era uma estratégia de defesa diferente, era uma estratégia de caminho de ronda, onde a muralha e as torres eram usada como caminho de ronda. As torres estavam à distância de um tiro de flecha, e isso é o período cristão-islâmico, e depois há a artilharia.”

Questionado sobre se as intervenções de restauro do seculo XX condicionam esta obra, o arquiteto, relativamente à Igreja Matriz de Juromenha que ainda não vai ser intervencionada neste projeto, refere que “mesmo que a gente não goste desta cobertura de vigotas de cimento, se não tivéssemos feito esta cobertura, o monumento não sobreviveria. E ,apesar de não gostarmos deste tipo de apologias, a decisão de fazer isto salvou a Igreja.”

O arquiteto destacou ainda que “há uma coisa importante que é, de geração em geração vão-se reinventando as estratégias e os métodos de intervenção e, de facto, atualmente estamos num momento em que há muito trabalho feito e há muito conhecimento desenvolvido,” acrescentando que “já não se pode fazer determinadas obras em património, portanto, já há uma consciência sobre como intervir no património, que vai desde os materiais, às tecnologias e aos usos.” Segundo nos revelou o arquiteto “hoje em dia não se faria esta intervenção, mas, de facto, isto foi importante porque, em muitas intervenções estas infraestruturas são salvas.”

Pedro Pacheco revelou que, normalmente, “estas estruturas começam a colapsar de cima para baixo. Quando não há problemas geológicos quando o solo é rijo, como é o caso, portanto, não havendo capeamentos, coberturas, telhados, etc., há infiltração, as pedras começam-se a desagregar e começa a haver o colapso.”

Conclui referindo que, “se não houvesse aqui à 40 ou 50 anos investimento da Direção Geral de Monumentos da região do Alentejo, nós não tínhamos Juromenha.”

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