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Sexta-feira, Abril 19, 2024

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“Se não fosse a Direção Geral de Monumentos do Alentejo hoje Juromenha já não existia”, diz o arquiteto José Aguiar (c/som)

Foi esta manhã assinado o auto de consignação da empreitada de consolidação e restauro dos parâmetros do perímetro abaluartado exterior e cerca islâmica e medieval interior da Fortaleza de Juromenha.

A cerimónia de assinatura decorreu na Igreja Matriz de Juromenha, no interior da fortaleza, e contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Alandroal, João Grilo, do Presidente da CCDR do Alentejo, Dr. António Ceia da Silva, da Diretora Regional de Cultura do Alentejo, Drª. Ana Paula Amendoeira, assim como dos arquitetos responsáveis pelo projeto, Arq. Pedro Pacheco e José Aguiar.

Trata-se de um investimento de  4.663.809,27 euros, com uma comparticipação de cerca de 300 mil euros por parte da autarquia de Alandroal.

A Rádio Campanário esteve presente nesta cerimónia e falou com o arquiteto José Aguiar. Questionado sobre como foi fazer o estudo da Fortaleza de Juromenha, um monumento com cerca de 2 mil anos de existência, o arquiteto refere que este é “um dos mais antigos de Portugal e autêntico,” acrescentado que “nós no seculo XX fizemos muitas intervenções a monumentos extraordinários, mas havia uma lógica de selecionar um tempo (idade do munomento), e muitas vezes, esquecer os outros tempos, e em Portugal raramente fizemos monumentos só num período.”

De acordo com José Aguiar, “nunca fomos uma terra muito rica, e portanto, fazíamos uma coisa que era muito natural.” O arquiteto revela que as intervenções eram feitas “faseadamente, com várias sobreposições, aquilo que a Senhora Diretora Regional chamou um palimpsesto (um livro que é reescrito várias vezes).” 

Com o avanço da técnologia, “nós hoje, estamos a descobrir livros que não sabíamos que existiam, porque nos papiros e nas peles dos animais estamos a descobrir, com os lasers e os scanners, que alguém escreveu outro livro que foi raspado, e depois, por cima desse livro foi escrito outro,” revela José Aguiar à RC.

O arquiteto acrescenta ainda que, “nós no século XXI, temos meios de estudar, que permitem-nos perceber que raramente um monumento é de um tempo ou de um estilo ou só duma época,” e com isso, “percebemos finalmente, no século XX, que esta estratificação tem mais valor do que escolher um momento só e em função desse momento fazer o restauro.”

Relativamente ao perímetro abaluartado exterior e cerca islâmica e medieval interior da Fortaleza de Juromenha o arquiteto refere que “Juromenha é uma peça extraordinária, porque estamos perante um palimpsesto que nos documenta vestígios romanos, visigóticos e dois períodos almóadas de taipa militar árabe, que é raríssima.”

No que diz respeito à cerca Islâmica de Juromenha, feita de taipa militar árabe, segundo nos referiu o arquiteto José, “quando falamos em taipa nós estamos a falar de fortificações feitas de terra, e evidentemente, a terra é muito degradável se não tivermos manutenção,” acrescentando que, “Juromenha é um monumento absolutamente extraordinário, de cultura e história da construção como existem poucos em Portugal.” Estas caracteristicas únicas só foram possíveis “em parte, porque não foi muito intervencionada, portanto ficou aqui uma espécie de reserva que protegeu para o futuro, tudo o que estamos a falar. Isto implica que qualquer projeto que se faça tenha que lidar com esta realidade, porque esta realidade é um dos valores extraordinários deste lugar.”

Questionado sobre se havia alguma preocupação na atuação no terreno devido às possíveis surpresas que possam surgir, José Aguiar refere que “nós quando fazemos projetos de consolidação e projetos de restauro há meia dúzia de coisas que temos que garantir: a primeira é exatamente a documentação, e nós procuramos ser os mais exaustivos possíveis, trabalhar com arqueólogos em equipa, com investigadores e tentamos compilar toda a informação que existe para estarmos alertados para tentar reduzir as surpresas.”

Segundo o arquiteto, “a partir do momento em que começamos a mexer é evidente que vamos encontrar situações novas, e aí, temos que encontrar soluções muito rápidas, de relação com os construtores, com a Câmara Municipal, com a Direção Regional de Cultura, porque se entramos em processos complexos de “espera por isto, espera por aquilo”, não vamos conseguir cumprir”

O arquiteto revelou que “nós como projetistas pedimos à Câmara uma coisa que está a funcionar muito bem, que é uma comissão de acompanhamento da Direção Regional da Cultura, acrescentando que “nós quando desenvolvemos o projeto, qualquer passo que dávamos nós pedíamos às entidades para discutir connosco, encontrar soluções e procurar respostas.” Também na “fase da obra temos que fazer o mesmo, este processo tem que continuar e o que nós nos propomos, é estar disponíveis para: há surpresas vamos imediatamente reunir esta “task force” e tentar resolver, o que supõem também a boa vontade das entidades.” 

A solução para que tudo corra dentro do previsto, segundo José Aguiar, “na nossa opinião é assim que se resolve, descobre-se um problema, vamos atacá-lo de frente criando estas estruturas de acompanhamento que pressupõem que as entidades não se poem num altar de marfim, pairando sobre tudo, tem que se envolver e por as mãos também na obra.”

Para concluir, o arquiteto destaca que “muitas das vezes criticamos a Direção Geral “Salazarista” e criticamos mal, porque a

Nacionais durou 75 anos e, se não fosse a Direção Geral, não tínhamos Juromenha hoje,” acrescentando que “quando estudamos os registos, descobrimos que dos anos 50 aos anos 90 há imensas intervenções da Direção Geral que salvaram Juromenha.”

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