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Alentejo e Ribatejo apostam nos Caminhos de Santiago para combater a sazonalidade

Paulo Cavaleiro – diretor-geral da Upstream, entidade responsável pela implementação dos Caminhos de Santiago no Alentejo e Ribatejo –  menciona ao Diário de Notícias que “Este projeto tem impacto no desenvolvimento das comunidades locais”. 

A recente certificação do Caminho Português de Santiago Central, atribuída a 15 de março, poderá ser um catalisador da repovoação rural. Combater a desertificação do território no interior é um objetivo comum ao governo central e à administração local. Contudo, atrair e reter população nestas zonas do país depende diretamente da capacidade de criar riqueza, mas também das acessibilidades e da oferta de serviços públicos.

O diretor-geral da Upstream conta que as consequências da criação dos percursos de peregrinação já se fazem sentir em algumas aldeias alentejanas. “A aldeia mais recôndita a sul do concelho de Mértola, de nome Mesquita, já começou a desenvolver negócios locais e a fixar população estrangeira”, revela.

Este é o primeiro percurso certificado em Portugal. Vítor Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERTAR), explica que “a certificação é o garante da qualidade diferenciada e de uma maior atratividade do itinerário”, com potencial para fortalecer a economia local. Para o líder da entidade pública, o “desenvolvimento da atividade turística em inúmeros locais mais isolados”, como aldeias e lugares de passagem, ajuda no “atenuar da sazonalidade”.

A ideia remonta a 2019, altura em que a ERTAR e a Upstream uniram esforços para proceder ao levantamento topográfico, histórico e cultural em toda a região, de forma a criar três trilhos rumo a Santiago de Compostela, em Espanha. Por não existir, antes do processo de conquista dos territórios a sul do Tejo aos muçulmanos, uma tradição de peregrinação a Santiago, João Cavaleiro conta que foi necessário recorrer a sustentação histórica para justificar os trajetos agora definidos.

“A justificação para a identificação dos Caminhos de Santiago a sul do país está baseada na presença da Ordem de Santiago” na região, tarefa entregue ao historiador Paulo Almeida Fernandes. O investigador e coordenador do Museu de Lisboa foi selecionado por ser o autor da candidatura deste legado a Património Imaterial da UNESCO, mas também por ser um profundo conhecedor e “caminheiro”, atesta o líder da empresa. O trabalho incluiu ainda a criação de informação de suporte aos turistas, sinalética e a recuperação de alguns caminhos de utilização pública, que tinham sido, entretanto, ilegitimamente vedados por privados.

No total, existem hoje três percursos disponíveis para quem, por motivos religiosos ou culturais, pretende rumar a Santiago de Compostela – o Caminho Central, o Caminho Nascente e o Caminho da Raia. De Santa Cruz à Golegã ou de Mesquita a Nisa, são 44 os concelhos alentejanos e ribatejanos abrangidos pelos trilhos da peregrinação, completando cerca de 1400 km. “70% dos caminhos são feitos fora de qualquer estrada”, adianta João Cavaleiro, que refere a segurança dos visitantes como uma das prioridades no desenvolvimento deste projeto. Desde a cortiça aos vinhos da talha, não esquecendo as casas caiadas e as planícies sem fim, há muito para oferecer a quem visita a região.

Essencial, diz o responsável da Upstream, é garantir a preservação dos caminhos e a criação de produtos turísticos que gravitem em seu redor, atraindo turistas portugueses e estrangeiros. “Espanha beneficiou muito de todo esse trânsito de pessoas, sobretudo no Norte, e a expectativa criada também é essa”, afirma.

De acordo com os responsáveis pela iniciativa, Portugal registou em 2019 cerca de 80 mil pessoas que percorreram o caminho entre o Porto e Santiago, a que acresceram cinco mil peregrinos no Caminho Nascente. Tendo em conta que 2021 foi declarado, pelo Conselho Jacobeu, Ano Jubilar, são esperados 50 mil visitantes nos principais percursos do Alentejo e Ribatejo. “É com expectativa que aguardamos esses efeitos positivos”, afiança Vítor Silva, referindo ainda que “a procura por informações sobre os nossos caminhos disparou”.

O presidente da ERTAR saúda “a participação alargada de todos os municípios” ao longo dos últimos três anos, permitindo conquistar uma certificação que muitos outros caminhos de peregrinação desejam mas ainda não conseguiram. Depois de um investimento de cerca de 600 mil euros, a região de turismo espera gerar mais dinamismo nos territórios locais e contribuir para a economia com o surgimento de novos negócios. “Hoje, com este projeto que potencia e valoriza verdadeiramente os territórios ditos de interior, já surgiram novas unidades de alojamento e a aposta em pontos de restauração”, realça Vítor Silva.

 

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