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Amigos e familiares do jornalista desaparecido na Amazónia protestam em Copacabana

Dezenas de pessoas juntaram-se hoje na famosa praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, para pedir às autoridades brasileiras que intensifiquem as buscas por um jornalista britânico e um ativista indígena desaparecidos há uma semana na Amazónia.

Mais de meia centena de pessoas juntou-se perto da torre de vigilância 6, perto do sítio onde o jornalista costumava fazer surf quando morava no Rio, e que foi o local convocado para pressionar as autoridades a intensificarem as buscas.

Vestindo camisolas brancas com a imagem dos desaparecidos com a pergunta ‘Onde estão?’ por vima da imagem dos desaparecidos, os manifestantes protestara em silêncio, num ato simbólico que, segundo a reportagem da agência espanhola de notícias EFE, teve mais efeito do que se houvesse protestos sonoros.

As autoridades brasileiras anunciaram no sábado a descoberta de possíveis restos humanos no âmbito das buscas por um jornalista britânico e um ativista indígena desaparecidos na Amazónia.

“As equipas de investigação localizaram no rio, perto do porto de Atalaia do Norte, matéria orgânica aparentemente humana” que será submetida a perícias, afirmou em comunicado a Polícia Federal, que procura em conjunto com as autoridades locais e as forças armadas o rasto de Dom Phillips e Bruno Pereira, desaparecidos desde domingo passado.

A polícia não esclareceu que tipo de vestígios orgânicos foram encontrados no local da margem do rio Itaquaí onde os bombeiros detetaram sinais de terra remexida recentemente.

Os familiares do único suspeito detido no desaparecimento do britânico e do ativista brasileiro garantem a sua inocência e acusam a polícia brasileira de o torturar para obter confissão, noticia hoje a AP.

O jornalista “freelancer” Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian e o ativista indígena brasileiro Bruno Pereira foram vistos pela última vez na manhã do passado domingo no Vale do Javari, o segundo maior território indígena do Brasil, que fica numa área isolada na fronteira com o Peru e a Colômbia. 

Os dois homens estavam na comunidade de São Rafael e iam regressar de barco à cidade vizinha de Atalaia do Norte, mas nunca chegaram ao destino.

As autoridades brasileiras prenderam na noite de terça-feira um homem considerado suspeito do desaparecimento dos dois homens, após terem sido detetado vestígios de sangue no seu barco.

O detido foi identificado como sendo Amarildo da Costa Oliveira, mais conhecido como “Pelado”, e era procurado por ser o autor de ameaças contra os indígenas que vivem na região e que defendem a preservação da Amazónia, segundo a Polícia Civil do Estado do Amazonas.

O suspeito foi localizado em São Rafael, onde mora, um local conhecido por ser uma importante base para mineiros ilegais, caçadores, pescadores e traficantes de drogas que atuam no Vale do Javari.

Segundo um irmão de Amarildo Oliveira, este ter-lhe-á contado quando o visitou na prisão que foi preso em casa pela polícia brasileira e que durante o caminho de barco até Atalaia do Norte foi agredido e torturado pelos agentes, que lhe chegaram a meter a cabeça debaixo da água.

Alegou ainda que os polícias pisaram a perna do irmão, pulverizaram-lhe a cara com ‘spray’ pimenta e drogaram-no duas vezes, embora não consiga dizer o que usaram.

“Eles queriam que ele confessasse, mas ele é inocente”, salientou Osenei da Costa de Oliveira.

Também a mãe do suspeito, Maria de Fátima da Costa, revelou que estava no porto de Atalaia do Norte quando o filho chegou com a polícia, relatando que o filho foi retirado do barco encharcado, com a cara tapada com um capuz, e que “mal conseguia andar sozinho”.

A mãe do suspeito disse ainda que o sangue que a polícia alega ter sido encontrado no barco do seu filho era provavelmente de um porco que ele tinha abatido alguns dias antes de ser detido. 

A Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas, que supervisiona a polícia local, disse em comunicado, que não vai comentar as acusações da família do suspeito porque a investigação está agora sob a responsabilidade da Polícia Federal, que também não prestou esclarecimentos sobre as queixas de tortura. 

As autoridades brasileiras enfrentam enorme pressão para encontrar os dois desaparecidos, após um número crescente de celebridades, políticos, grupos da sociedade civil e organizações internacionais terem pedido que a polícia, o exército e a marinha reforcem os meios de busca.

Dom Phillips, de 57 anos, trabalha no Brasil há mais de uma década e estava a preparar um livro sobre a preservação da Amazónia.

Bruno Pereira trabalha no Vale do Javari para a agência brasileira de assuntos indígenas, e há anos que recebia ameaças devido ao seu trabalho.

Há dias, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, manifestou em entrevista o seu desejo de que ambos os desaparecidos “sejam encontrados”, mas admitiu a hipótese de que estes “tenham sido executados”.

No entender de Bolsanaro, o jornalista britânico e o ativista brasileiro foram temerários por se terem “aventurado” numa região que abriga o maior número de indígenas isolados do mundo, mas que crescentemente se tornou uma área de atuação de organizações criminosas.

Às vozes que pedem uma ação mais decisiva do governo Bolsonaro já se juntou a de John Kerry, enviado especial dos Estados Unidos para o Clima.

 

C/lusa

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