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Sexta-feira, Março 29, 2024

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Camilo Mortágua em declarações à Rádio Campanário, “há quem diga que elas aproveitaram o nome do pai e hoje o pai se está aproveitando delas” (c/som e fotos)

Camilo Mortágua, antigo ativista do Movimento, Liga de Unidade e Acção Revolucionária e pai de Mariana Mortágua e Joana Mortágua, esteve, no dia 27 de outubro na cidade de Borba onde participou de uma tertúlia.

“O que me traz a Borba é aquilo que me leva a qualquer lugar.” Assim iniciou Camilo Mortágua a conversa com esta estação emissora. Acrescentando a importância de “falar com as pessoas, ouvir as pessoas e trocar ideias.” É isso que o move por ser “fã de uma frase” de João de Deus que disse. “Em qualquer parte, onde houvesse um analfabeto toda a universidade era um luxo.” A questão, segundo o nosso entrevistado não passa, por “ser ou não analfabetos “e sim pelo facto de “todos termos limites ao nosso conhecimento.”

Camilo Mortágua sublinhou a importância que está “em dar oportunidade à vida e a tudo o que nela acontece, do que nos excluirmos da vida para nos enfiarmos nos muros da universidade.” Isto em relação ao facto de no seu tempo não ser muito adepto da escola. 

Recordando a sua história e a época em que participou nos assaltos, ao Paquete Santa Maria, ao Banco de Portugal ou aos aviões da TAP, Camilo Mortágua referiu que deve “ser por isso” que actualmente tem sido apelidado de coisas que vão desde revolucionário, a terrorista, passando por assaltante. Segundo ele, “eu nunca ataquei pessoas” em nome da liberdade. “Atacava o sistema, atacava a ditadura, se não houvesse ditadura e prisão só por pensar. Eu não atacava ninguém, se o Salazar não tivesse, Pide.” Salientado a importância do pensamento” há muita gente neste mundo que o seu objectivo na vida não é ser rico a todo o custo.” Há gente que para ser rico “é capaz de matar e há quem ligue muito mais ao ser do que ao ter.”

Inquirido sobre a importância das tertúlias no afastamento dos condicionamentos ao pensamento e sobre a possibilidade de pensarmos todos da mesma forma, ou se devemos mudar a mentalidade de quem quer ser rico, referiu, “a nossa obrigação como seres humanos é fazer com que todos os humanos respeitem os princípios que são entendidos com os valores da Humanidade.”  

Tendo sido Camilo Mortágua um importante activista por altura da Revolução em 1974 e antes disso, e sendo actualmente, pai de Mariana Mortágua e de Joana Mortágua, duas figuras de destaque da vida política nacional, foi-lhe perguntado se é esse o motivo, que o trouxe novamente para as luzes da ribalta, ou se está a aproveitar esse facto para reaparecer, Camilo Mortágua respondeu. “Não, eu sempre parti do princípio que acabado o 25 de Abril, quem se tinha batido até aí não tinha razão nenhuma para deixar de se bater.” Segundo ele” a vida continuava” assim como os “problemas” e dessa forma é preciso mostrar que “quem se bateu contra a ditadura, não se batia apenas contra pessoas, batia-se por princípios.” Deixando claro que, nunca deixou de ter “causas” as filhas cresceram e “nunca as influenciei, é uma coisa dupla, há quem diga que elas aproveitaram o nome do pai e hoje que o pai se está aproveitando delas.”

Camilo Mortágua trazia vestida uma camisola com um pensamento de Zeca Afonso. “Quando começamos a procurar alibis para justificar o nosso conformismo então está tudo lixado.” Acrescentando em relação a isso que ´´ não é só em Portugal” que o conformismo é inerente à condição humana, há humanos que não se conformam e há humanos que se conformam com tudo.” E que a sua “obrigação é lutar para que o mundo seja melhor.”

Camilo Mortágua pensa que seria “conversa para umas horas” a forma como vê a actuação das filhas e do Bloco de Esquerda como apoiante do actual Governo e do Orçamento de Estado para 2017. Resumindo existir o conceito de “corporação conflitual” do qual é “adepto fervoroso” já que se fazem “muitos acordos sem se discutir as coisas que realmente nos levam a não estar de acordo, eu posso não estar de acordo, nisto, mas apesar disso quero cooperar e quero fazer coisas.” Desse modo vê a actuação das filhas, neste momento, como cada um tendo “o seu clube” tal como no tempo da LUAR em que a organização “nunca perguntou a ninguém se era mais branco ou rosa” e sim, se se queria “bater conta o fascismo.”

 Na opinião de Camilo Mortágua, “se houver uma ditadura violenta que prende e que mata, todos os meios se justificam para lutar contra ela.” Mas que “nunca houve mortos” obedecendo ao princípio, “com quem a gente se encontra não tem culpa nenhuma.” Acabando por admitir que na época “ameaçar era uma exigência”, mas que hoje uma LUAR “não” fazia sentido, “eu sei que isto não agrada a muita gente,” mas “sempre que eu possa exprimir-me e não seja preso por isso, não se justifica nenhuma ação violenta”.

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