O festival Descobre o Teu Interior arrancou em Beja dia 31 de março e vai percorrer, até dia 24 de abril, 8 territórios do interior do país. Ao longo desta viagem vai ser possível viver experiências culturais únicas e intimamente ligadas à identidade de cada território.
Nos dias 8 a 9 de abril o festival esteve em Vila Viçosa onde decorreram várias atividades, nomeadamente, conversas para refletir sobre o interior, concertos em espaços únicos, jantares que celebram a gastronomia, passeios que revelam espaços vedados e workshops dedicados a ofícios locais.
A Rádio Campanário esteve presente na conversa “O turismo histórico está a ficar fora de moda?”, que decorreu no Museu do Mármore Raquel de Castro, e falou com o vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Viçosa, Tiago Salgueiro que começou por referir “o tema da conversa de hoje é bastante importante e relevante para Vila Viçosa, porque temos um património histórico que pode ser uma ferramenta importantíssima, do ponto de vista da dinamização turística.”
Segundo a opinião de Tiago Salgueiro acerca da pergunta que deu mote a esta conversa, “penso que o turismo histórico não está fora de moda, antes pelo contrário. A tendência será agora de crescimento, depois da pandemia, e depois da rápida resolução do problema na Ucrânia, e nós o que queremos valorizar é isso mesmo.”
Segundo o autarca há que “demonstrar através dos monumentos, a nossa identidade muito particular e isso fará com que as pessoas venham depois a Vila Viçosa com maior curiosidade.”
Como na maior parte das localidades, há património em Vila Viçosa que necessita de intervenções, para que possam estar ao dispor dos visitantes. “Temos aqui vários trabalhos a desenvolver, temos que reabilitar o nosso património. Vila Viçosa é muito mais do que somente o Paço e o Castelo.”
No âmbito do Festival Descobre o Teu Interior, decorreu uma visita a três Ermidas localizadas em Vila Viçosa, que estão a necessitar de uma intervenção para que possam ser visitadas. De acordo com o vice-presidente, “a visita que tivemos a oportunidade de fazer a algumas ermidas foi bastante importante, também para chamar à atenção dessa necessidade de reabilitação do património, e como essa reabilitação pode ser depois aproveitada do ponto de vista turístico.”
Vila Viçosa é rica em património histórico, cultural, religioso e gastronómico como tal o autarca destacou que há que despertar a curiosidade de conhecer esta identidade cultural. “Temos o sericá. O sericá surgiu como? Como é que chegou a Vila Viçosa? Foi levado para outros locais? Veio da India? Como chegou aqui? Como foi transformado? Temos aqui um conjunto de narrativas que podem ser importantes, desse ponto de vista, e que passam por esse circuito religioso e patrimonial, portanto, temos aqui um potencial que é grande, mas precisa de ser valorizado, promovido e recuperado.”
Questionado sobre se na sua opinião, o património para ser visitado e dado a conhecer tem que ser reabilitado, Tiago Salgueiro defendeu que sim, explicando que ” antes de tudo isso, é preciso que haja aqui um diálogo entre as instituições. Isso é absolutamente fundamental, porque de que vale a pena intervir no património se ele depois não é fruído pelo público, pela comunidade, por aqueles que nos visitam?”
“Hoje em dia as pessoas visitam o Paço Ducal, o Castelo, mas a média de estadia em Vila Viçosa acaba por ser reduzida. Se nós tivermos aqui outras ofertas culturais que sejam de qualidade, teremos oportunidade de prolongar essa estadia e todos ganham com isso,” apontou o autarca.
“O turismo, baseado no património e na história de Vila Viçosa, não resolverá todos os problemas, mas permitirá criar aqui uma alavanca que permita. Depois, que a própria comunidade desenvolva outro tipo de iniciativas em que todos possam vir a ganhar. Eu acho que a estratégia tem que seguir um pouco nesse caminho.”
Questionado se mesmo sem intervenções a rota das Ermidas pode ser uma realidade para o público, Tiago Salgueiro destacou “há sempre uma possibilidade até para evidenciar aquilo que não deve ser feito em termos de boas praticas patrimoniais. Tudo está em aberto neste momento, mas eu acho que é necessário que possamos dar uma resposta positiva, que possamos intervir no património. Há várias soluções hoje que permitem a reabilitação de um determinado espaço dando-lhe alguma originalidade, mas isso implica algum investimento, implica que haja diálogo entre as instituições, e que se estabeleçam parcerias que permitam essa reabilitação do património.”
Para além da Rota das Ermidas há outras sugestões deixadas pelo autarca. “Temos a possibilidade de fazer o roteiro da pintura mural, num roteiro religioso, um roteiro gastronómico que passe pelos conventos e que fale sobre a doçaria conventual de Vila Viçosa que é bastante importante, mas para isso é preciso que hajam estas discussões através destas iniciativas, como o Festival Descobre o Teu Interior, que ponham as pessoas a falar sobre aquilo que pode ser feito no futuro e sobre aquilo que pode ser valorizado.”
“Será que este património pode ser a chave para o desenvolvimento turístico do concelho de Vila Viçosa? É sobretudo isso que temos que refletir nos próximos tempos e através dos depoimentos do professor Vítor Rosa e da Dra. Marta Pascoa, que existe um potencial grande, quer a nível do arquivo, quer a nível da inspiração artística que pode surgir da visita aos monumentos e eu penso que essa dinâmica é fundamental,” sublinhou o vice-presidente.
“Vila Viçosa é uma terra que tem uma história vasta e no século XVI teve uma importância muito grande com a presença da Corte literária dos Duques de Bragança e eu acho que é necessário revitalizar essa inspiração e trazer aqui essa discussão que eu acho que é absolutamente fundamental,” rematou Tiago Salgueiro.
