A dissertação da estudante Shirley van der Horst, no âmbito do Mestrado em Biologia de Conservação da Universidade de Évora (UÉ), sob a orientação de Rui Lourenço, investigador do ICAAM, foi a base de um estudo publicado no European Journal of Wildlife Research, no qual se avaliaram os efeitos da proximidade de estradas (principais e secundárias) na abundância de corujas-do-mato no Alentejo Central entre 2005-2006.
O estudo foi publicado a 2 de dezembro e contou com investigadores do LabOr-Laboratório de Ornitologia do ICAAM e da UBC-Unidade de Biologia da Conservação do DBIO. A investigação foi realizada no âmbito dos projetos LIFE LINES (LIFE14 NAT/PT/001081) e POPCONNECT (PTDC/AAG-MAA/0372/2014), e a coruja-do-mato foi utilizada como modelo de estudo por (1) ser uma ave florestal comum em matrizes de montado e amplamente distribuída na região, (2) ser um predador com um comportamento marcadamente territorial e (3) responder com facilidade à emissão de vocalizações gravadas, o que facilita a deteção de indivíduos.
Na dissertação de mestrado da estudante Shirley van der Horst, propunha-se a determinar se na proximidade de estradas (principais e secundárias) as corujas-do-mato ocorrem em menor abundância e apresentam uma tendência populacional mais negativa comparativamente com os locais mais distantes, porventura próximos de estradas rurais. Trata-se de uma questão relevante para a gestão do território com vista à conservação da biodiversidade na medida em que os diferentes efeitos causados por estradas principais e secundárias têm expressão temporal e espacial, e esses aspetos raramente têm sido considerados por investigadores. As evidências reunidas neste estudo sugerem que diferentes tipos de estradas têm diferentes efeitos de perturbação nas populações de coruja-do-mato, podendo reduzir os seus efetivos ou tornando as suas abundâncias mais instáveis no tempo.
O estudo de Shirley van der Horst e coautores mostra que em zonas florestais distantes das estradas as corujas-do-mato são normalmente mais abundantes, exibem uma reduzida variação na ocupação dos locais e as suas populações são tendencialmente mais estáveis. As estradas principais, pelo contrário, prejudicam a qualidade do habitat das corujas limitando a sua abundância e ocupação do local e levando a uma tendência negativa das populações devido a mortalidade adicional por atropelamento e/ou outras perturbações. As estradas secundárias não prejudicam severamente a qualidade do habitat permitindo uma ocupação inicial e, por vezes, a ocorrência de densidades relativamente altas. Todavia, podem atuar como armadilhas ecológicas revelando instabilidade na ocupação ao longo da época de reprodução e uma tendência negativa da população.
Esta investigação traz um novo olhar sobre os efeitos de diferentes tipologias de estradas em populações de aves ao longo de vários anos, utilizando a dinâmica populacional de corujas-do-mato como um estudo de caso.
João Rabaça, Diretor do Laboratório de Ornitologia (ICAAM) da UÉ, faz uma analogia com o título do filme de Sergio Leone, afirmando que os resultados do estudo “evidenciam que as estradas rurais, principais e secundárias, desempenham respetivamente os papeis d’O bom, o mau e o vilão nas abundâncias e tendências populacionais de coruja-do-mato”.
02 Mar. 2021 Regional
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