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Doutorando da Universidade de Évora estudou a influência da barragem do Alqueva em artrópodes!

Um estudo conduzido por Rui Raimundo no âmbito do Doutoramento em Biologia da Universidade de Évora (UÉ) analisou o impacto que a construção da Barragem de Alqueva produziu na diversidade e distribuição de grupos de aranhas, escaravelhos e borboletas residentes nos ilhéus emergentes. O Alqueva mudou drasticamente o Alentejo, mas, tal como Rui Jorge Raimundo comprova no seu estudo, as mudanças não se prendem apenas com a sua paisagem. O impacto económico, climatérico e social tem provocado uma mudança paradigmática e suscitado diversos estudos que tentam avaliar as consequências da barragem na fauna, na flora e na vida da região.

Inaugurada em 2004, a Barragem de Alqueva é a maior barragem em Portugal, e um dos maiores lagos artificiais da Europa, com uma albufeira com 250 km² e mais de 1100 kms de margens. Uma das consequências da sua construção foi a formação de grupos de pequenas ilhas, que alteraram os ecossistemas e a relação que as espécies locais têm entre si e com o seu habitat.

De acordo com a nota divulgada pela Universidade de Évora, a fragmentação de habitats, que ocorre quando uma área natural homogénea é descaracterizada e separada em partes menores, causa um desequilíbrio ambiental que afeta, principalmente, o processo de acasalamento de espécies com baixa mobilidade e que pode levar à extinção gradual de determinadas espécies. Quanto maiores as alterações ocorridas no território, maior é e destruição causada, porém, mesmo quando moderada, a fragmentação de habitats pode causar a extinção de comunidades locais. Enquanto algumas espécies pouco abundantes podem desaparecer quase imediatamente, as espécies dominantes, enfrentam uma extinção mais moderada e menos percetível, causando aquilo que na ecologia se denomina “dívida de extinção”.

Sob orientação de Diogo Figueiredo, Professor do Departamento de Biologia da UÉ, e de Paulo Alexandre Vieira Borges, Professor do Departamento de Biologia da Universidade dos Açores, Rui Jorge Raimundo procurou, no âmbito da tese de doutoramento em Biologia, identificar o impacto que a fragmentação territorial imposta pela edificação da barragem surtiu na dinâmica da algumas das comunidades locais.

A análise recaiu sobre grupos de aranhas (Araneae), de escaravelhos da família Carabidae (Insecta, Coleoptera) e de borboletas (Lepidoptera, Rhopalocera) e procurou, através da comparação dos índices de diversidade dos períodos de pré e pós-enchimento, determinar de que forma a sua distribuição e abundância foi condicionada.

De acordo com os dados fornecidos pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva Sa (EDIA), confirmou-se, no período pré-enchimento, a existência de 23 espécies de carabídeos e 67 espécies de aranhas por 29 ilhas diferentes, sem registo, porém, do grupo de borboletas.  No período pós-enchimento os dados demonstraram a presença de 41 espécies de carabídeos e 274 espécies de aranhas, presentes em 33 ilhas, e de 32 espécies de borboletas registadas em 67 ilhas.

Analisados os resultados, constatou-se que, para o grupo das borboletas e dos e escaravelhos carabídeos, quanto maior era a área da ilha, maior era o número de espécies registadas. A presença de áreas maiores que comportam um maior número de habitats e alimento disponíveis constitui, por esta razão, um fator de influência na distribuição destes dois grupos.  Quando observado sob a perspetiva da distância entre a ilha e o continente, a distribuição revelou-se variável consoante a espécie. Para o grupo das borboletas, que apresentam uma elevada capacidade de dispersão, a distância não é um fator restritivo. Porém, no caso dos carabídeos, cujas espécies aladas apresentam uma capacidade de voo limitada, torna-se uma condicionante a ter em conta. Já no caso das aranhas, devido aos seus comportamentos elaborados e capacidade de dispersão, a sua distribuição e diversidade não são condicionadas nem pela área nem pela distância do arquipélago ao continente.

Rui Raimundo concluiu que nos grupos das aranhas e dos carabídeos se verifica um modelo caracterizado por comunidades com elevada perturbação, enquanto no grupo das borboletas os números apresentam um modelo mais aproximado do que se espera em comunidades com alguma perturbação.  Perante os resultados obtidos, é possível deduzir que provavelmente se esteja perante um fenómeno de “dívida de extinção”, em que o tempo de relaxamento (atraso esperado entre a perda de habitat e a extinção) é muito curto para se perceber o real impacto da construção da barragem do Alqueva nestas espécies nativas.

O Alqueva mudou drasticamente o Alentejo, mas, tal como Rui Jorge Raimundo comprova no seu estudo, as mudanças não se prendem apenas com a sua paisagem. O impacto económico, climatérico e social tem provocado uma mudança paradigmática e suscitado diversos estudos que tentam avaliar as consequências da barragem na fauna, na flora e na vida da região.

Licenciado em Biologia, Mestre em Gestão e Políticas Ambientais e Doutor em Biologia pela Universidade de Évora, Rui Jorge Raimundo é, atualmente, investigador do Comprehensive Health Research Centre (CHRC) e reponsável pelo “Funding office” do mesmo centro.

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