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Sexta-feira, Abril 19, 2024

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“Não somos contra o Olival intensivo, mas sim contra a forma como está a ser implementado”, diz ambientalista José Martins (c/som)

Atualmente assiste-se à instalação descontrolada de milhares de culturas de regadio em regime intensivo e superintensivo, no Baixo Alentejo, a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável na voz de José Paulo Martins, manifesta aos microfones da Rádio Campanário a sua preocupação com os impactes ambientais e com a ameaça que paira sobre a saúde das populações.

Os planos de expansão dos perímetros de rega para novas áreas para além do previsto no Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva são uma realidade, “ultrapassando os 200 mil hectares, no entanto não se verifica a capacidade de suporte deste sistema a médio prazo quando os ciclos de seca são cada vez mais frequentes e prolongados, as mudanças climáticas a par da subida da temperatura média, uma redução da precipitação conduz à redução da disponibilidade hídrica, a redução de caudais e menor capacidade de reposição dos aquíferos subterrâneos”.

A ZERO questiona também a opção por “culturas permanentes em regime de monocultura intensiva, onde destaca o olival e o amendoal, sem que exista limitação de futuras áreas de ocupação, atendendo aos riscos económicos e ambientais, bem como a introdução acidental de novas pragas e doenças”.

“Não somos contra o Olival intensivo, mas sim contra a forma como está a ser implementado”
José Paulo Martins

Voltando aos perímetros de rega, a ZERO refere que “os novos perímetros de rega provocaram uma alteração na paisagem, alterando a identidade regional do Alentejo”. A associação aponta uma incapacidade das entidades públicas em acompanharem a instalação dos novos perímetros, bem como da “fiscalização da sua exploração”. Falhas na legislação são também apontadas, sendo “pouco eficaz, omissa ou inconclusiva nos instrumentos de gestão do território não contemplando medidas mais exigentes no ordenamento da atividade”.

O Alentejo regista um forte fenómeno de desertificação, o que leva a associação a exigir “acompanhamento e fiscalização de todos estes processos de cultivo intensivo, de modo a que se promova a conservação do solo face aos efeitos da erosão e consequente ravinamento que já se verifica em alguns pontos”.

No que respeita aos riscos para as populações a Zero refere que estamos “a lidar com uma atividade que utiliza produtos fitofarmacêuticos, logo é necessário reforçar a capacidade de fiscalização e aplicação de modo a minimizar o seu impacto ambiental e na saúde humana”. A associação aponta ainda falhas nos PDM que deveriam incluir faixas de segurança que limitem a implementação deste tipo de culturas e a utilização de pesticidas junto ás habitações e na orla dos aglomerados populacionais.

Não só as culturas intensivas agravam estes riscos, como também as empresas de extração de óleo de bagaço de azeitona são responsáveis pela má qualidade do ar, o que leva a Zero a referir que estes deverão ser obrigados a instalar tecnologias mais eficazes de modo a reduzir o impacto nas populações afetadas.

Em termos de biodiversidade, a Zero refere que a mesma tem sido fortemente afetada na região, o que implica que se estabeleçam limites ás culturas intensivas obrigando à manutenção de áreas mínimas de superfície agrícola utilizada afetas a culturas extensivas. A manutenção das faixas de vegetação nos taludes e áreas declivosas, para que se promova a conservação das margens de linhas de água, a preservação das azinheiras e sobreiros, de modo a criar habitats e refúgio para a biodiversidade são alguns dos pontos focados pela ZERO.

A ZERO defende a procura de maior sustentabilidade nos sistemas agrícolas da região, no entanto essa sustentabilidade não pode colocar em causa os sistemas naturais e a saúde das populações.

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