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Páscoa 2022: Arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho, deixa mensagem Quaresmal!

A Arquidiocese de Évora, em nota d eimprensa envciada à nossa redação, deu conta da mensagem quaresmal de D. Francisco Senra Coelho, Arcebispo da Diocese de Évora.

Nesta mensagem D. Francisco Senra Coelho refere “são grandes as necessidades que nesta conjuntura se fazem sentir em muitas populações alentejanas e ribatejanas da nossa Arquidiocese, porém o sofrimento que o povo ucraniano experimenta nesta hora da sua história golpeia os nossos corações e faz-nos olhar mais para eles do que para nós. Por isso, repartiremos com eles aquilo que o Senhor na Sua infinita bondade nos oferece e pela nossa partilha com o povo ucraniano, ainda que pequena como um grão de mostarda, multiplicar-se-á para eles cem por um em utilidade, e para nós em Luz e Alegria. Assim, destinamos a nossa Renúncia Quaresmal deste ano às Caritas das Igrejas Latina e Grega Católicas da Ucrânia.”

Leia aqui a mensagem quaresmal na íntegra:

Estimados Presbíteros, Diáconos, Consagrados e Consagradas, Seminaristas, Famílias e Jovens, Cristãos e Cristãs, que o Senhor esteja convosco e vos conceda saúde, paz e bem!

1. A Quaresma não é uma proposta obsoleta, caduca, e arqueológica de práticas espirituais e ascéticas de outras e para outras épocas, mas “Tempo Favorável” oferecido por Deus para que experimentemos de modo mais vivo e comprometido o mistério pascal de Cristo: «Se somos filhos, então somos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, de fato participamos dos seus sofrimentos, para que também participemos da sua glória» (Rm 8,17).

A Quaresma é “Tempo Favorável” no qual Cristo purifica a Igreja sua esposa, «Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível» (Ef 5:25-27). Assim, o ‘Tempo Santo’ da Quaresma assenta, não tanto sobre as nossas práticas ascéticas, mas na acção purificadora e santificadora do Senhor; as obras penitenciais são sinal da nossa participação no mistério de Cristo que por nós fez penitência, jejuou no deserto e na cruz se entregou até ao fim. Deste modo, a Igreja é uma comunidade pascal, porque é batismal. Esta realidade manifesta-se não só porque se entra nela mediante o batismo, mas sobretudo porque Ela é chamada a exprimir com uma vida de contínua conversão o sacramento que a gera. Por isso, a Quaresma é o tempo da grande convocatória de todo o Povo de Deus, para que se deixe purificar e santificar pelo seu Senhor e Salvador.

Vivendo conscientemente a Quaresma, percebemos que a sua espiritualidade deve assumir a totalidade da sua exigência: pascal – batismal – penitencial – eclesial. Por isso, a penitência quaresmal não pode ser só interior e individual, mas tem que se assumir também externa,  comunitária e social: a detestação do pecado como ofensa a Deus; as consequências sociais do pecado; a consciência da Igreja como pecadora e necessitada de purificação; a oração solidária por todos e com todos os pecadores; a partilha solidária com os mais necessitados.

Segundo a Constituição Litúrgica do Concílio Vaticano II, (SC 109-110), os meios sugeridos para a prática quaresmal são: a escuta mais frequente da Palavra de Deus; oração mais intensa e mais prolongada, o jejum e as obras de caridade. Procuremos concretizar estas propostas quaresmais na nossa Arquidiocese Eborense.

2. O nosso Plano Pastoral 2021-2022, “Cuidar e inserir os sedentos de Esperança”, «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Lc 9,13), «remete-nos para uma questão fundamental da experiência cristã (…) Toca o coração da proposta do evangelho. Enquanto evoca o que de melhor a experiência da Igreja tem realizado nos caminhos da história, aponta, ao mesmo tempo, as urgências mais prementes da sua missão nos actuais contextos».

Dai-lhes vós mesmos de comer” percebemos que Jesus ordena aos doze que dêem de comer à multidão. Eles, porém, não se dão conta do dom que Jesus está a confiar às suas mãos: o pão da Palavra e o pão da Eucaristia. Não entendem que a sua bênção multiplicará infinitamente este alimento que sacia todo o tipo de fome: a fome de felicidade, de amor, de justiça, de paz, a necessidade de encontrar o sentido da vida, a ânsia de um mundo novo.

Consciente deste dom e desta tarefa o nosso Plano Pastoral conclui que «os novos cenários de cada época comprometem a comunidade cristã com novas configurações e respostas na fidelidade à missão que Jesus confiou aos seus discípulos. A missão é sempre a mesma, mas os contextos são sempre novos. Daqui decorre o imperativo de nos questionarmos de como poderemos, hoje, ser fiéis à missão de cuidar e inserir os irmãos mais debilitados e que clamam por um olhar ou um abraço redentor».

O Papa Francisco ajuda-nos a perceber a nossa tarefa e a nossa missão no contexto exigente em que vivemos: «aquilo que temos só produz frutos se o dermos (isto é o que nos quer dizer Jesus!); e não importa se é muito ou pouco. O Senhor faz grandes coisas com o nosso pouquinho, como no caso dos cinco pães. Ele não realiza prodígios com acções espetaculares, não tem a varinha mágica, mas atua com coisas humildes. A omnipotência de Deus é humilde, feita apenas de amor; e o amor faz grandes coisas com as coisas pequenas. Assim no-lo ensina a Eucaristia: nela está Deus encerrado num bocado de pão. Simples, essencial, pão partido e partilhado, a Eucaristia que recebemos transmite-nos a mentalidade de Deus e leva a darmo-nos, a nós mesmos, aos outros. É o antídoto contra afirmações como estas: “lamento, mas não me diz respeito, não tenho tempo, não posso, não é da minha conta”.  Antídoto contra o virar a cara para o outro lado. (Homilia Papa Francisco – Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo).

O chamamento que o Espírito Santo dirige à Igreja que peregrina em Évora para “Cuidar e inserir os sedentos de Esperança”, revê-se neste momento evangelizador de Cristo. De facto, quem acolhe o Evangelho e com ele alimenta a sua vida, quem assimila a pessoa de Cristo alimentando-se do pão eucarístico, por sua vez sente necessidade de tornar os outros participantes da sua descoberta e da sua alegria e começa a distribuir também o pão que saciou a sua fome. Desencadeia-se assim um processo de partilha e os doze cestos estão sempre cheios e prontos para recomeçar a distribuição. Quanto mais aumentam aqueles que se alimentam do pão da Palavra de Cristo e da Eucaristia, mais se multiplica o pão distribuído a quem tem fome.

Perante a experiência eclesial da partilha, mais evidente é o contraste com o mundo sem Deus e concluímos com o Papa Francisco: «No mundo, procura-se sempre aumentar os lucros, aumentar o volume de negócios… Sim, mas com que finalidade? É o dar ou o ter? O partilhar ou o acumular? A «economia» do Evangelho multiplica partilhando, alimenta distribuindo; não satisfaz a voracidade de poucos, mas dá vida ao mundo (cf Jo 6,33). O verbo de Jesus não é ter, mas dar.

3. Caros Irmãos e Irmãs, são grandes as necessidades que nesta conjuntura se fazem sentir em muitas populações alentejanas e ribatejanas da nossa Arquidiocese, porém o sofrimento que o povo ucraniano experimenta nesta hora da sua história golpeia os nossos corações e faz-nos olhar mais para eles do que para nós. Por isso, repartiremos com eles aquilo que o Senhor na Sua infinita bondade nos oferece e pela nossa partilha com o povo ucraniano, ainda que pequena como um grão de mostarda, multiplicar-se-á para eles cem por um em utilidade, e para nós em Luz e Alegria. Assim, destinamos a nossa Renúncia Quaresmal deste ano às Caritas das Igrejas Latina e Grega Católicas da Ucrânia.

Como habitualmente, este serviço distributivo é entregue com gratidão pelos anos já executados, à Cáritas Diocesana, devendo os Reverendos Párocos endereçar as ofertas das suas Paróquias ao Instituto Diocesano Eborense (IDE), serviço central da Arquidiocese com a brevidade possível, pois as necessidades revestem-se de grande urgência.

Sintamo-nos unidos à Igreja Universal assumindo na comunhão a Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2022. Que ela nos inspire: «Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos». (Gal. 6,9-10a).

Para todos, votos de fecunda Quaresma a caminho da Páscoa 2022.

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