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Professora da Univ. de Évora defende que o Montado é importante para travar a desertificação no Sul!

Teresa Pinto Correia, Professora do Departamento de Paisagem, Ambiente e Ordenamento e Diretora do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED) da Universidade de Évora defende que  o Montado é importante para travar a desertificação no Sul de Portugal.

A Docente considera« que o Montado “é um tipo de exploração do solo característico do Sul de Portugal que combina a floresta de sobreiros e azinheiras com a agricultura e a criação de gado. Conheça algumas das razões da importância do Montado, sobretudo a sua capacidade de travar o progresso da desertificação” apontando as razões porque o Montado é importante para travar a desertificação.

São doze as razões apontadas:

1. Barreira entre o deserto e a Europa – Pela cobertura arbórea que mantêm algum grau de humidade, evita a erosão do solo e não tem risco de incêndio porque as árvores estão dispersas, pela acumulação de matéria orgânica e armazenamento de água no solo e pela resistência ao fogo, mais do que qualquer outra cultura, o Montado confere ao território no Sul do país maior resiliência às alterações climáticas e ao processo de desertificação.

2. Diminui a escassez de água – Ao permitir a infiltração da água da chuva no solo, o Montado reabastece os lençóis freáticos e contribui para a regulação hidrológica das áreas onde se mantêm com impacto nas áreas circundantes.

3. Sequestro de carbono – A matéria orgânica do solo com pastagens, as árvores e o sub coberto arbustivo retiram da atmosfera dióxido de carbono CO2 mesmo enquanto se produzem alimentos derivados dos animais na pastagem.

4. Biodiversidade – Árvores adaptadas ao ambiente Mediterrânico, pastagens biodiversas, manchas de mato nos taludes e zonas com pedras, vários níveis de vegetação e complexidade funcional caracterizam o Montado e fazem dele um hotspot de biodiversidade, ao mesmo tempo que lhe confere resiliência e maior resistência a pragas e doenças.

5. Solo mais saudável – O solo, para além de terra, é constituído por uma comunidade complexa de plantas, animais e micróbios, sendo um importante reservatório de biodiversidade, que regula as emissões de gases com efeitos de estufa e promove a saúde de pessoas, animais e plantas. A melhoria das funções do solo, é uma forma de combater as alterações climáticas. No Montado, porque é pouco mexido, o solo pode ter uma boa estrutura funcional e muita biodiversidade.

6. Impacto no clima – Para além do sequestro de carbono, o Montado, em comparação com a agricultura intensiva e especializada, necessita de pouca água e retêm água no solo, e contribuiu para temperaturas mais moderadas e maior quantidade de humidade no solo e na atmosfera.

7. Produção de carne de forma responsável – Os animais fazem parte do Montado. Correctamente balanceados com a gestão e regeneração das árvores, vacas, porcos e ovelhas podem ser produzidos no Montado. A emissão de gases com efeito de estufa, pelos animais, é contrabalançada com o sequestro e fixação de CO2 pelas árvores, pastagem e solo. A fileira de produtos únicos de alta qualidade gastronómica e requinte beneficia a economia da região.

8. Cortiça – A cortiça é casca do sobreiro, 100% vegetal e natural com uma abrangência de atributos a aplicações que nenhuma tecnologia conseguiu imitar, igualar ou ultrapassar. Portugal que detém um terço da área mundial de sobreiros é o maior produtor de cortiça do mundo, responsável pela produção de 50% das rolhas mundiais. Um activo único do nosso país.

9. Bolota – Rica em fibra, proteína e antioxidantes, sem glúten e com um perfil de lípidos semelhante ao azeite, a bolota é um alimento de alto valor nutricional que tem sido muito desperdiçado em Portugal. Recuperando uma tradição antiga, vemos hoje a bolota voltar a ser utilizada como complemento de alimentação, como petisco gourmet depois de assada ou como ingrediente da doçaria e padaria regionais.

10. Controlo de risco de incêndio – Os fogos florestais que destroem património e fazem disparar as alterações climáticas têm no Montado um inimigo. Gerido pelo pastoreio, com árvores dispersas e pouca biomassa para arder o Montado é excelente para reduzir o risco de incêndio.

11. Turismo rural e ecoturismo – O turismo rural nacional e internacional em paisagens de Montado tem adquirido importância cada vez maior, fruto das experiências ímpares que proporciona e que vão ao encontro da maior procura de atividades “eco” ligadas à sustentabilidade. No Alentejo têm sido criadas com enorme sucesso experiências turísticas ligadas à observação e contacto com o Montado, atividades artesanais associadas, passeios pedestres, observação de estrelas, observação de avifauna, gastronomia e caça.

12. Herança cultural – Há evidência de continuidade do Montado ao longo da História, tornando-o parte da herança cultural do Mediterrâneo e da identidade regional do Alentejo. O Montado é a paisagem mais icónica do Alentejo, e em parte do Ribatejo, marco de identidade, tradições e costumes. As enormes manchas de sobreiros e azinheiras em planícies onduladas ou em pequenas serras proporcionam uma paisagem única e que inspira serenidade.

Foto: MED- Universidade de Évora

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