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Projeto liderado pela Universidade de Évora descobre histórias das coleções de dois museus nacionais!

A Universidade de Évora (UÉ) lidera o  projeto TRANSMAT – Materialidades Transnacionais (1850-1930): reconstituir coleções e conectar histórias, um projeto que tem como objetivo desvendar as histórias que rodeiam objetos estrangeiros de coleções do Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, e do Museu Municipal Santos Rocha, na Figueira da Foz, no distrito de Coimbra.

Quando visitamos os museus históricos portugueses, nomeadamente de arqueologia, é bem provável que se depare com uma maioria de objetos representativos da história das diversas regiões do nosso país mas é bem possível que se depare também com coleções estrangeiras: aqui fica certamente surpreendido ao encontrar objetos oriundos de Itália, do Egipto, mas também de vários pontos de África, da Ásia, da América e da Oceânia. Elisabete Pereira, investigadora do Instituto de História Contemporânea (IHC), polo da Universidade de Évora (UÉ), quer desvendar alguns dos mistérios que encerram as histórias destas coleções.

Qual o significado da circulação de bens culturais provenientes de Itália, Grécia, Egito, África, Ásia e América, particularmente no século XIX e na primeira metade do século XX? Como foi desencadeado o deslocamento destes bens culturais? Como chegaram estes objetos a Portugal e quando? Quem os recolheu? Com que objetivo foram deslocados dos seus lugares de origem? De que forma foram inseridos nas várias etapas de existência dos museus? Que valores e significados assumiram ao longo do tempo? São estas e outras questões que Elisabete Pereira pretende desvendar.

Como estas coleções estão relacionadas com fases de afirmação da arqueologia e da antropologia, “a história da ciência é aqui fundamental” realça a investigadora a coordenar o projeto TRANSMAT – Materialidades transnacionais (1850-1930): reconstituir coleções e conectar histórias, onde, através da investigação pretende apresentar a compilação e sistematização de dados académicos sobre a circulação de bens culturais e das suas implicações culturais, sociais e políticas. “Optamos por centrar a nossa atenção nas coleções estrangeiras que em contextos museológicos portugueses procuraram representar outros contextos: sejam coleções arqueológicas de contextos geográficos europeus ou africanos” (ex. Itália ou Egipto) ou coleções etnográficas e coloniais, então representativas dos designados à época ‘primitivos contemporâneos’, desvenda a investigadora, doutorada em História da Ciência pela Universidade de Évora

O focus deste projeto de investigação levado a cabo por Elisabete Pereira, será colocado nas importantes, e em parte desconhecidas, coleções transnacionais do Museu Nacional de Arqueologia (Lisboa) e do Museu Municipal Santos Rocha (Figueira da Foz). Embora diferindo no seu âmbito, um museu nacional e um museu regional, estas instituições partilham o facto de preservarem nos seus acervos coleções arqueológicas, etnográficas/antropológicas de diversas proveniências – que exibem atualmente ou exibiram no passadocom o objetivo de educar e instruir sobre outros tempos históricos ou diferentes contextos humanos e geográficos.

Elisabete Pereira dá o exemplo do Museu Nacional de Arqueologia que em 1893, tal como outros museus europeus, criou uma secção e arqueologia de comparação. Para além das coleções nacionais de arqueologia e etnologia, destinadas a promover o conhecimento da história e identidade nacionais, o museu apresentava uma coleção de objetos estrangeiros que permitiam por um lado constatar a diversidade do mundo e por outro entender os testemunhos materiais pré-históricos através dos objetos dos, então designados, «selvagens contemporâneos» ou «povos não civilizados da época contemporânea». No Museu Municipal Santos Rocha, criado apenas um ano depois, 1894, existia a mesma tipologia de objeto transnacionais e os mesmos objetivos.

A investigadora propõe desta forma produzir conhecimentos sobre os complexos processos de construção destas coleções comparativas, conhecer os intervenientes e os seus contextos de interferência com o percurso das coleções, identificar os vários níveis de práticas culturais e científicas, entender os objetos, os seus itinerários e os seus múltiplos significados ao longo do tempo e nos vários espaços por onde circularam.

Para além de Elisabete Pereira, integram a equipa do projeto TRANSMAT os investigadores do IHC, polo da Universidade de Évora, Maria de Fátima Nunes (co-coordenadora) e Quintino Lopes, Jorge Croce Rivera (CHAIA da UÉ), para além de António Camões Gouveia (CHAM — NOVA FCSH), Joana d’Oliva Monteiro (IHA — NOVA FCSH), Ana Ferreira e Ana Paula Cardoso (Museu Municipal Santos Rocha), António Carvalho e Patrícia Baptista (Museu Nacional de Arqueologia). O projeto recebeu um financiamento de cerca de 250 mil euros para três anos, tendo sido o primeiro classificado ex-aequo no painel Filosofia — História e Filosofia da Ciência, num concurso da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), altamente competitivo onde apenas 5% dos projetos foram financiados.

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