10.9 C
Vila Viçosa
Quinta-feira, Março 28, 2024

Ouvir Rádio

Data:

Partilhar

Recomendamos

Terena/Santuário Sra da Boa Nova: Novo achado no santuário mariano mais antigo a Sul do Tejo(c/fotos)

Tal como a Rádio Campanário já tinha noticiado, o Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, em Terena, está a ser alvo de uma intervenção de requalificação.

A Confraria da Boa Nova, numa publicação efetuada na sua página oficial de facebook, referiu ontem que continuam a bom ritmo as obras de Conservação e Restauro do Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova.

A Confraria sublinha que ” novas descobertas permitem-nos ficar a conhecer mais um pouco sobre a grandiosidade e a magia deste local com seculos de história. Recordemos que o Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova é, segundo os historiadores, o Santuário Mariano mais antigo a Sul do Tejo.”

Na sequência desta obras, conforme refere a Confraria, há agora novas descobertas que permitem  ficar a conhecer mais um pouco sobre a grandiosidade e a magia deste local com seculos de história.

Recorde-se que o Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova é, segundo os historiadores, o Santuário Mariano mais antigo a Sul do Tejo.

De acordo com a A IN SITU Conservação de Bens Culturais, Lda.,  empresa especializada na conservação, restauro e no estudo de bens culturais há um novo achado em Santa Maria de Terena.

Com o levantamento das telhas que cobriam a igreja, foi possível identificar os canais de ventilação visíveis pelo interior da igreja, os terraços originais da cobertura e o corredor do adarve.

Graças à variação dos materiais com que foi feito o terraço da cobertura, conforme pode ler-se na publicação efetuada, é possível agora distinguir o templo do século XIII e a posterior igreja-fortificada desenhada por Estevão da Gama, que Mário Jorge Barroca refere no livro “Terena – O Castelo e a Ermida da Boa Nova”.

Esta descoberta histórica inesperada permitiu testemunhar, conforme indicam, ” que a área coberta com tijolo burro será o templo contruído por D. Gil Martins Riba de Vizela e sua mulher, D. Maria Anes da Maia, após a assinatura “de uma composição” com o Bispo D. Martinho Peres e com o cabido de Évora em Abril de 1261 onde, de acordo com o historiador Mário Barroca, “se esclarecia, de forma explícita, que os dois pretendiam vir a erguer ‘igreja’ ou ‘igrejas’ nas suas ‘hereditates’ de Terena e de Foxem (hoje Viana do Alentejo)”.

Nesta mesma publicação pode ainda ler-se “a igreja dos Riba de Vizela terá sido erguida rapidamente visto que no ano seguinte, “quando os mesmos decidiram outorgar a carta de Foral a Terena, a vila já surge designada como ‘Sancta Maria de Terena’, um sintoma de que o templo paroquial já estaria construído, ou pelo menos em construção, e que a sua invocação já estava decidida”, conforme deduz o historiador Barroca.

Deixou, assim, de ser conhecido como Santuário da Boa Nova e ganhou uma nova popularidade que cerca de 20 anos depois – talvez também graças ao exílio dos Riba de Vizela em terras castelhanas e à sua amizade com o rei Afonso X –, o tornou cenário de não menos que 12 cantigas do cancioneiro de Santa Maria. Desse templo, como nota o historiador, o único vestígio remanescente é uma base de coluna com uma “modinatura de toro-escócia”.

No entanto, com a revelação do terraço o testemunho dos materiais, A IN SITU Conservação de Bens Culturais, Lda refere “conseguimos agora entender as reformas que o templo sofreu ao longo dos séculos. Caso para dizer, as pedras falam.”

Barroca conclui que “do ponto de vista heráldico e militar, é seguro que a reforma do templo foi realizada depois de D. Afonso III “porque os escudos já apresentam o campo central, com os cinco escudetes dispostos em cruz, enquadrado pela bordadura de castelos” introduzido por aquele monarca. Também porque é àquele rei que se deve o primeiro exemplo de um balcão com matacães, no Castelo de Melgaço. Portanto, a reforma de Terena terá “ocorrido várias décadas depois da primeira construção”, em meados de 1300, “a ponto de já ter sido necessária uma reformulação tão radical do seu espaço e de ter sido possível utilizar uma solução militar tão avançada” e de acordo com as ilações de Barroca, “por vontade direta da coroa portuguesa”.

Pela dimensão da cobertura de xisto que agora revelamos, a reforma foi pensada com a grandeza que a culto exigia. E de acordo com este historiador  terá sido feita entre 1325 e 1340.

Resta perceber por que razão se decidiu, anos ou séculos depois, colocar telhas em toda a cobertura, impossibilitando a circulação no adarve, fechando os respiradores e a câmara localizada num vazio por cima da sacristia que já o historiador referia e que pensamos ser uma sala de abrigo dos militares que defendiam no terraço, por ser acessível apenas pela entrada agora descoberta (visível nas fotos).

Com esta intervenção,  foram ainda encontradas outras coisas curiosas, como o jogo do Alquerque e outros gravados nas lajes de xisto do pavimento para passar o tempo durante a guarda.

Ana Rocha

Fonte/Fotos: A IN SITU Conservação de Bens Culturais, Lda/Confraria da Boa Nova

Populares