Investigação da Universidade de Évora (UÉ) aponta que a retenção de remanescentes de vegetação natural como árvores isoladas ou pequenos bosquetes, e a introdução de novos elementos estruturais como refúgios artificiais, estão entre as principais estratégias para alcançar o equilíbrio entre produção e conservação em olivais.
Estas são as principais conclusões do projeto O projeto ECOLIVES – Gestão sustentável em olivais mediterrânicos: serviços de controlo biológico providenciados por espécies silvestres como incentivos para a conservação da biodiversidade, coordenado por José Herrera, investigador do novo Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento da Universidade de Évora (MED-UE) da Universidade da de Évora.
O projeto pretendeu esclarecer os padrões de diversidade de espécies selvagens em olivais da região do Alentejo com diferentes níveis de intensificação de gestão e, finalmente, o impacto potencial que esta intensificação tem nos serviços do controlo de pragas realizado por algumas dessas espécies. Especificamente, o ECOLIVES esteve focado no estudo do papel que os vertebrados (aves e morcegos) e os invertebrados (vespas parasitóides) desempenham como controladores da mosca e da traça da azeitona.
Para José Herrera, “o aumento da intensificação na gestão, bem como o incremento da área de olival, está diretamente relacionada com uma marcada diminuição do número e da abundância de espécies de vertebrados e invertebrados.” Por tratar-se de espécies que se alimentam exclusivamente de insetos (incluindo as espécies praga), esta diminuição de espécies tem consequentemente um impacto negativo para os produtores dado que afeta a potencial prestação de serviços de controlo biológico nos próprios olivais.
De referir que “a perda de complexidade estrutural é a causa principal deste declínio, já que a homogeneização do padrão de plantação e a redução da área natural na paisagem envolvente diminui a probabilidade dos olivais serem usados como áreas de alimentação ou de criação” sublinha o investigador da UÉ.
A equipa do projeto refere que as pragas agrícolas, e o decorrente uso de agroquímicos, estão entre as principais causas de prejuízo económico. Recentemente, vários estudos apontam que a utilização de meios naturais de combate às pragas (conhecidos como serviços de controlo biológico – SCB) possa constituir uma forma eficaz, ecológica e lucrativa de reduzir os prejuízos na produção agrícola e a utilização de agroquímicos. Contudo, a aplicabilidade e investimento neste tipo de estratégias estão ainda muito condicionados pela falta de conhecimento da ecologia e dos processos que permitam a gestão dos SCB a longo-prazo.
José Herrera faz recordar que “o olival no Alentejo tem aumentado consideravelmente durante os últimos anos, tornando-o num cenário chave para a conservação da biodiversidade. No entanto, estudos recentes sugerem que o aumento substancial da superfície destinada a este cultivo bem como as práticas de gestão aplicadas apresentam um impacto negativo considerável sobre a quantidade e abundância de inúmeras espécies. Paradoxalmente, muitas destas espécies têm demonstrado bastantes benefícios para os sistemas agrícolas, incluindo para o próprio olival.”
O projeto ECOLIVES – Gestão sustentável em olivais mediterrânicos: serviços de controlo biológico providenciados por espécies silvestres como incentivos para a conservação da biodiversidade (Projeto n.º 16865 – PTDC/AAG-REC/6480/2014), financiado por Fundos FEDER através do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização – COMPETE e por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, liderado pela Universidade de Évora, contou com a coparticipação das Universidades de Lisboa e Porto.
Os principais dos resultados do projeto foram apresentados num seminário, destinado tanto a produtores como a cientistas, que decorreu no dia 28 de Fevereiro de 2020 no Auditório de Conferências do Pólo da Mitra da Universidade de Évora.
Licenciado em Biologia pela Universidade de Granada e Doutorado em Biologia pela Universidade de Oviedo, José Herrera foi investigador Pós-doutorado na Estação Biológica de Doñana, encontrando-se atualmente na Universidade de Évora a estudar o impacto que as diversas causas das alterações globais (concretamente a alteração da paisagem e as alterações climáticas) exercem sobre os padrões de distribuição de espécies e o subsequente efeito destas alterações sobre processos ecológicos, incluindo aqueles que regulam os serviços de ecossistemas como a polinização e o controlo biológico de pragas em sistemas agrícolas.