Mais de uma centena de obras de Jorge Vieira (1922-1998), desde esculturas a desenhos, vão ser doadas sábado ao município de Vila Franca de Xira, que acolhe uma expressiva representação do autor do “Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido”.
A assinatura do contrato de doação de bens culturais do espólio pela escultora Noémia da Cruz Guerreiro, viúva do artista, ao município de Vila Franca de Xira, está marcada para as 15:00, no Museu do Neo-Realismo, naquela cidade, onde está patente uma exposição que lhe é dedicada.
Contactada pela agência Lusa sobre a doação, fonte da autarquia indicou que a representação da obra de Jorge Vieira na Coleção de Artes Plásticas do museu “é significativa”, abrangendo um arco temporal da sua produção artística entre a década de 1950 e finais da década de 1980.
As 111 obras objeto deste contrato de doação “encontram-se à guarda do Museu do Neo-Realismo/Município, parte significativa está na exposição, a outra parte nas reservas museológicas”, indicou a mesma fonte.
As 111 peças agora doadas, no valor patrimonial de cerca de 177 mil euros, serão adicionadas ao acervo do museu, “graças à generosa doação da escultora Noémia Cruz”, sublinhou.
Parte significativa dos bens culturais referentes a esta doação a oficializar no sábado encontram-se patentes desde 11 de setembro de 2021 na exposição intitulada “Jorge Vieira – Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido”, prevista para terminar a 27 de março de 2022.
As outras duas doações feitas à autarquia – proprietária do museu – têm o valor de cerca de 21 mil e 69 mil euros, respetivamente, que, somados à terceira doação, ascende a um total de cerca de 267 mil euros, precisou.
Nome maior da escultura em Portugal, Jorge Vieira nasceu em Lisboa a 16 de novembro de 1922 e morreu em Estremoz a 23 de dezembro de 1998.
Licenciado em Escultura na Escola de Belas-Artes de Lisboa, participou nas Exposições Gerais de Artes Plásticas de 1947 e 1951 e expôs individualmente, pela primeira vez, em 1949 na Sociedade Nacional de Belas Artes, e viria dedicar-se ao ensino, mantendo sempre uma forte atividade política, com empenhamento cívico e luta antifascista.
A partir da década de 1990 criou um conjunto de encomendas públicas de grande dimensão, que marcam os espaços urbanos em que se encontram implantadas, como o “Monumento à Liberdade” (1998), em Almada, o “Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido” (1994), em Beja, o “Monumento para o Mineiro” (1983), em Aljustrel, o “Monumento à Liberdade” (1999), em Grândola, ou da escultura do seu final de carreira, “Homem Sol”, criada para a Expo’98 em Lisboa (1997), que se encontra no Parque das Nações, em Lisboa.
Jorge Vieira foi o único artista português admitido a concurso. A obra, de protesto contra o Estado Novo, apenas viria a ser erigida em 1994, na cidade de Beja, por iniciativa do município da cidade, que atualmente alberga o Museu Jorge Vieira – Casa das Artes, onde se encontra parte do seu espólio.
C/Lusa