António Galopim de Carvalho apresentou, ontem, na Biblioteca Pública de Évora, o livro “Évora anos 30 e 40”, a sua obra mais recente. Sala cheia para escutar uma lenda viva da Geologia portuguesa que, aos 90 anos de idade e dono de uma memória invejável, continua a ser um extraordinário contador de estórias, conforme divulgado pelo município.
O livro, apresentado pelo antigo Presidente da Autarquia e Doutor Honoris Causa pela Universidade de Évora, Abílio Fernandes e, também, por Francisco Bilou, do Museu de Évora e amigo do autor, é composto por “uma série de crónicas da vida que aqui se viveu nestas duas décadas do século passado.”
Com o Presidente da Câmara de Évora, Carlos Pinto De Sá, na plateia, Galopim de Carvalho clarificou que tudo o que escreveu neste livro foi de memória, sem recurso a qualquer tipo de pesquisa, explicando que “o significado histórico destas crónicas está limitado ao que foi o meu espaço geográfico e ao meu mundo familiar, de amigos e conhecidos, e é subjetivo, na medida em que depende da avaliação pessoal que fiz e assimilei. A componente ficcional diluída nalgumas destas prosas, por meras razões de uma certa intencionalidade poética, não adultera a realidade física e social da cidade de então.”
O “pai dos dinossauros em Portugal”, como é também carinhosamente conhecido pelo seu trabalho de Paleontólogo, revelou que esta publicação reúne “os muitos textos que dei à estampa, em livros e revistas, e outros que escrevi nas redes sociais. Estruturados numa única obra, constituem tentativa de ensaio de pendor essencialmente etnográfico e sociológico, visando, sobretudo, a parte da cidade que conheci e uma parcela significativa da comunidade urbana, nesses anos da primeira metade do século XX.”
Percorrendo os seus anos de infância e adolescência em Évora, Galopim de Carvalho deliciou o público presente com o relato de inúmeros episódios das suas vivências nos vários locais em que habitou: nasceu na rua de Frei Brás, foi aprendiz de carpinteiro na rua do Segeiro, aprendeu a fazer queijos na Porta Nova e foi sapateiro na rua do Salvador. Andou ainda numa escola de toureio que deixou quando levou “uma grande marrada”, contou divertido. Antes de ser Geólogo foi ainda Tenente e empregado de escritório.
António Marcos Galopim de Carvalho, nascido em Évora em 1931, é Professor Catedrático Jubilado na área de Geologia. Foi responsável científico de numerosos projetos de investigação nas áreas de Geologia Marinha e de Paleontologia, sendo também autor de várias obras de carácter científico, bem como de obras de divulgação e ficção. Em 2001 a Câmara Municipal de Évora atribuiu-lhe a Medalha de Mérito Municipal – Classe Ouro. É patrono da Escola Básica do Bacelo e foi-lhe concedido, em 2018, o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Évora.
A organização da iniciativa pertenceu à Câmara Municipal de Évora em conjunto com a Biblioteca Pública de Évora e a editora Âncora.
Fotos: CM Évora