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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

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Villa romana onde “nasceu” o vinho da talha, recebe 6 mil visitantes por ano (c/som)

Projeto São Cucufate - Pedro André da Silva

As escavações na Villa romana de Cucufate (Vila de Frades, Vidigueira) tiveram início há 40 anos, e a data vai ser assinalada com um programa diversificado ao longo deste fim de semana.

Aos microfones da RC esteve Gracinda Palma, técnica responsável pelas visitas ao espaço, que afirma que “não existe outra villa igual a esta”, onde foram encontrados os mais antigos vestígios de produção do vinho da talha.

“Um monte alentejano tradicional onde se fazia a produção da vinha e do olival”, tem “uma casa com dois pisos”, onde é possível percorrer o piso térreo e proporcionar os visitantes a possibilidade de “estar literalmente dentro de uma casa romana, concebida há 2 mil anos”.

“Celebrar 40 anos das escavações de São Cucufate é celebrar a planície e os seus homens imortalizados no cante”
Município da Vidigueira

“Do conjunto arquitetónico faz parte uma zona termal imensa”, com 3 locais de banho – frigidário, tepidário e o caldário – “vai desde o frio até ao quente”, assim como “uma área enorme dedicada ao lazer e bem-estar”. Integra ainda o conjunto, “um templo próprio onde os romanos faziam as suas orações”, algo que aponta como invulgar numa casa de uma só família.

Posteriormente, o espaço foi um convento de frades (até 1723), o que poderá ter permitido “chegar até nós com a imponência que ainda hoje se apresenta”.

Ao longo dos anos têm sido “feitas várias intervenções de conservação e consolidação dos espaços”, sendo que as grandes escavações ocorreram apenas nas décadas de 79 e 80. Nos trabalhos realizados por uma “equipa luso-francesa”, destaca os nomes de Jorge Alarcão, Françoise Mayet, Róbert Etienne e Conceição Lopes. Os artefactos encontram-se no museu arqueológico na Vila de Frades.

S. Frades recebe “à volta de 6 mil visitantes por ano”, avança, oriundos de todo o lado, incluindo estrangeiros, assim como escolas e universidades sénior.

Questionada sobre a dinâmica imprimida pelo espaço arqueológico, afirma que este “é muito importante não só para a freguesia, como para o concelho e para os concelhos limítrofes”, levando à restauração do território as pessoas que vão visitar e que “depois também acabam por adquirir os produtos regionais”, como o vinho.

“O mais importante que esta villa tem não é só ser uma construção diferente, é porque aqui se começou a fazer o vinho da talha”
Gracinda Palma

Na Casa do Arco, museu em Vila de Frades, encontram-se expostos achados como restos de “objetos que tinham a função de guardar e transportar o famoso vinho da talha”, que o município está a trabalhar para elevar a Património da Unesco. “Nas escavações foram encontradas grainhas que atestam que realmente aqui se fazia vinho da talha”, declara. 

A Villa romana de São Cucufate é visitável através de marcação (Direção Regional de Cultura, s.cucuface@cultura-alentejo.pt ou por contacto telefónico), com horários variáveis ao longo do ano. O espaço está disponível para a realização de eventos, como no passado, como concertos, casamentos, passagens de modelos ou lançamentos de vinhos.

A villa romana de São Cucufate teve três fases de construção:

uma primeira datada de meados do século I a. C., outra de meados do século II e uma terceira de meados do século IV.

Os materiais recolhidos na villa fazem supor que terá sido habitada até meados do século V e abandonada no período visigótico.

No período muçulmano (séc. X ou XI) estabeleceu-se no edifício uma comunidade de frades que ali viveu possivelmente até à segunda metade do século XII, tendo São Cucufate por seu padroeiro.

Em 1254, o edifício foi cedido ao mosteiro de S. Vicente de Fora, que aí instalou um novo convento, cuja ocupação se prolonga até meados ou finais do século XVI.

O edifício foi então abandonado porque ameaçava ruína, mas a capela, agora consagrada a S. Tiago, continuou aberta ao culto.

As pinturas murais que se observam no seu interior, datadas dos séculos XVII e XVIII, são da autoria de José de Escovar, artista residente em Évora e decorador de muitas igrejas da região.

A última data segura sobre o culto em São Cucufate é de 1723, ano em que faleceu o ermitão da capela, João Lopes.

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