A tradição milenar do Vinho de Talha, com origens na era romana e mantida viva na região de Vidigueira, Alentejo, foi recentemente proposta para inclusão no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI) pela autarquia local. O objetivo é alcançar o reconhecimento deste património cultural imaterial pela UNESCO.
Rui Raposo, presidente da Câmara Municipal de Vidigueira, descreve esta prática como um legado social e comunitário, frequentemente preservado dentro do âmbito familiar, utilizando técnicas manuais e mecânicas herdadas dos romanos. O Vinho de Talha tem sido uma fonte de rendimento secundário para as famílias e um pretexto para a congregação e celebração comunitária. Atualmente, conta-se com 134 produtores que perpetuam esta tradição por paixão e conhecimento transmitido de geração em geração.
A progressiva descontinuação da produção profissional de Vinho de Talha deve-se à emergência de adegas cooperativas, à facilidade de venda de uvas a estas entidades e à predominância de vinhos padronizados no mercado. A produção hoje visa, sobretudo, a preservação do saber e a partilha de experiências entre gerações. Conhecido localmente como o “Vinho dos amigos”, o Vinho de Talha simboliza a amizade e a união, sendo frequentemente motivo para reuniões sociais.
Com a candidatura ao INPCI, a autarquia de Vidigueira aspira a salvaguardar e promover internacionalmente esta prática. A comunidade local mostrou-se entusiasta, participando ativamente na criação de material de apoio à candidatura. Segundo o presidente Raposo, todo o material recolhido, que inclui processos de produção, fotografias e vídeos, constitui um valioso legado para as futuras gerações, já documentado na plataforma MatrizPCI.
O reconhecimento do Vinho de Talha como Património Cultural Imaterial da Humanidade não só valorizaria esta tradição única do Alentejo, mas também fortaleceria o sentido de identidade e pertença das comunidades locais.
