O som característico da viola campaniça ‘cruza-se’ com a voz de sotaque moçambicano e a música eletrónica no espetáculo de abertura da edição deste ano do festival Artes à Rua, em Évora, marcado para quinta-feira.
Intitulado “Revoada”, o espetáculo, em estreia, sobe ao palco instalado na Praça do Sertório, às 21:30, e é protagonizado pelo músico alentejano António Bexiga (viola campaniça) e pelos moçambicanos Lenna Bahule (voz) e Dercio Gomate (eletrónica).
O espetáculo assenta na “ideia das migrações” e na necessidade de as pessoas se movimentarem “de um sítio para o outro com a expectativa de ficar melhor”, revelou hoje o músico António Bexiga, em declarações à agência Lusa.
Segundo o artista alentejano, os três prepararam para esta atuação nove faixas, todas originais, as quais foram criadas agora durante uma residência artística em Évora e, anteriormente, em encontros em Moçambique e ‘online’.
Também em declarações à Lusa, a cantora moçambicana Lenna Bahule mostrou-se satisfeita com o repertório criado para o espetáculo, notando que os três músicos trabalharam “com textura sonora e trilha sonora também”.
“Acho que temos essa veia criativa de conseguir compor músicas que falam sobre paisagem, músicas que não são literais e que não são no formato de canção, mas são muito no formato dessa intenção muito mais do que a coisa literal”, sublinhou.
Já a viola campaniça, reconheceu Lenna Bahule, funcionou como “o grande guia” para os dois artistas moçambicanos, pois, dos três, o António Bexiga é quem “tem mais experiência na composição e na criação”.
“A viola campaniça foi guia para nós. A partir daí, até por questões práticas de tom, fui acrescentando a minha camada vocal e, depois, veio o Dercio para dar esse corpo” às faixas musicais, acrescentou.
O músico moçambicano Dercio Gomate afirmou à Lusa que “a viola campaniça acompanha muito bem os ritmos vocais que a Lenna compõe” e que o espetáculo junta ainda “esses dois mundos à eletrónica para tentar fazer o som crescer mais”.
“Revoada”, uma das estreias, é um dos 52 espetáculos da edição deste ano do festival Artes à Rua, que se prolonga até 14 de agosto, promovido pela Câmara de Évora.
De acordo com o diretor artístico do evento, Luís Garcia, esta 4.ª edição do certame conta “198 artistas”, vindos de Portugal e também do Brasil, Cabo Verde, Chile, Cuba, Espanha (Galiza e Catalunha), Itália, Japão, Marrocos, Moçambique e Nigéria.
O programa, que vai animar o espaço público de Évora, como ruas e praças, contempla espetáculos que vão desde a música, a dança ou o teatro até à performance, circo contemporâneo e artes visuais.
Uma outra estreia, agendada para as 21:30 de 13 de agosto, resulta de uma residência artística que une a marroquina Soukaina Fahsi e o grupo Cantares de Évora, com direção artística de Carlos Menezes.
Em destaque no programa estão, igualmente, as atuações da chilena Ana Tijoux (29 deste mês), da cantora portuguesa Maro (03 de agosto), do Club Makumba, projeto musical de Tó Trips (Dead Combo, Lulu Blind) e João Doce (Wraygunn), aos quais se juntam Gonçalo Prazeres e Gonçalo Leonardo (09 de agosto), do Bateu Matou (11 de agosto) ou de Dino D’Santiago (14 de agosto).
Mazarin, SENZA, Minyo Crusaders, Mario Lucio Sousa & os Kriols, Maruja Limón ou quarteto Mão Verde são outras das propostas.